quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ironias do voto útil.

Se voto útil é votar noutro partido que não o que representa alguém, por questões de utilidade, então tira sentido ao conceito de democracia representativa.

Por outro lado se um dado voto não é útil, é porque é inútil, logo não faz sentido votar.

Depois queixam-se da abstenção e da qualidade da nossa democracia.

Governo até quando?

Ainda nem o futuro governo tomou posse mas a questão da ordem do dia é até quando durará. Vai durar os 4 anos ou terão de haver eleições antecipadas?

O futuro governo terá alguns problemas:
  • não ser suportado por uma maioria absoluta na assembleia;
  • não desfrutar do famoso "estado de graça" que os novos governos têm (para todos os efeitos este governo será visto como o "antigo" governo);
  • ser confrontado com situações que se avizinham:
    • elevado défice já este ano: as próprias previsões oficiais são de 5,9%, mas economistas independentes têm apontado desde 6,5% até 9%;
    • carga de impostos e contribuições sociais que continuam a aumentar: o novo código das contribuições vai aumentar a cobrança de um modo geral, dê-se-lhe o nome que der;
    • o problema da segurança e elevada criminalidade, muita dela impune: o relatório do observatório de segurança deverá ser divulgado dentro de dias;
    • em que estado fica o famoso modelo de avaliação dos professores.
Com os velhos problemas a continuarem a existir, mas agora com falta de pachorra dos eleitores e outros agentes, bem como maior fragilidade existente na AR, seguramente terá uma vida difícil.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sondagens da treta e comparações estúpidas.

Ainda sobre as últimas eleições...

Mais uma vez houve falhanço das sondagens. É certo que não são uma ciência exacta, mas têm andado com erros tendenciosos nos últimos tempos. O problema é que erram sempre para o mesmo lado. Vimos sondagens a dar 12% ao BE e 40% ao PS, quando esses partidos tiveram 9,85% e 36,56% respectivamente. É uma diferença grande, especialmente quando é posta em confronto com outros partidos. Por exemplo, nas sondagens que davam 40% ao PS, o PSD aparecia com 29% que se veio a confirmar, mas não a brutal diferença face ao PS. O mesmo é aplicável ao BE, que apareceu sempre como 3ª força política, quando na realidade foi 4ª e com substancialmente menos votação do que lhe era atribuído. Já o CDS-PP teve mais votos que qualquer sondagem lhe dava.

O mais estúpido é haver quem as assuma como valores certeiros e as trate como se fossem eleições que medissem ao certo o eleitorado. Um dos muitos exemplos que já li: "PSD partiu de um empate técnico [nas sondagens do início de campanha] e veio a perder com 7% de diferença". Esse empate técnico provavelmente nem existiu. Como é possível medir a evolução de um partido comparando os valores ficcionais de sondagens com os valores reais de uma eleição?!

Resultados eleitorais...

Eleição para a Assembleia da República - 27 de Setembro de 2009.

Resultados interessantes, embora algo expectáveis. Para mim a única surpresa foi a derrota tão profunda do PSD. Grandes derrotados: PSD e CDU (PCP).

PCP vai para o fim da bicha tornando-se cada vez mais irrelevante. O que é pena porque até é um partido "simpático". Mas isso já não chega.

PSD... Manuela Ferreira Leite (MFL) era uma catástrofe. Percebia-se isso, sentia-se isso. Mas foi mantida pelo estado maior social-democrata. O problema acaba por nem ser tanto tanto Ferreira Leite em si, mas antes a intelligentzia do partido que sai daqui derrotada. Os barões, os "credíveis", vêem agora quanto valem. Conseguir resultados quase tão baixos como Santana em condições muito mais favoráveis seria quase inconcebível, mas MFL conseguiu-o. Hasta la vista!

CDS-PP é justamente premiado com a coerência de ideias e discurso esclarecido. Focou alguns temas que preocupam os portugueses e apresentou propostas válidas.

BE, onde vêm ter os frustrados do PS. Não chega para os pôr nos píncaros como esperavam, e como as sondagens, ERRADAMENTE, faziam crer.

PS, boa vitória tendo em conta o (mau) trabalho apresentado. Os próximos 4 anos -- se lá conseguirem chegar -- vão ser seguramente diferentes dos anteriores. Basta pensar na quantidade de moções de censura que "sofreram" na ainda actual legislatura.

Abstenção: aumentou significativamente. De certa forma é lógico. Basta pensar em voto útil para perceber porquê.

Sondagens: não se compreende como continuam a insistir nos mesmos erros. Davam 40% ao PS, 12 ao BE%, enquanto punham o CDS sistematicamente como o partido menos votado... Onde estão esses valores agora?

Já agora a diferença entre os resultados finais e a minha previsão:

partido
% real
% palpite
diferença
PS
36.56
35
-1.56
PSD
29.09
33
+3.91
CDS
10.46
9
-1.46
BE
9.85
9
-0.85
PCP
7.88
9
+1.12


Exceptuando a desgraça do PSD, nada mau para um palpite. Melhor que muitas sondagens "científicas".

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A pior campanha de sempre?

Amanhã é o último dia da campanha das eleições para Assembleia da República de 2009.

Não sei se foi a pior campanha de sempre, mas deixou muito a desejar. O que é que se retém da mesma? Casos, demagogia, patetice:
- as alegadas escutas presidenciais,
- a pressão espanhola para se fazer o TGV, o que derivou em ...
- falsas questões de nacionalismo e patriotismo,
- acusações ou insinuações mútuas sobre quem é mais "salazarento",
- as pseudo asfixias.

Dificilmente se esperam coisas boas duma campanha, mas normalmente esperam-se ataques baseados em factos políticos, acções, dados, estatísticas. Podem ter mais ou menos ética, ser mais ou menos verdadeiros, mais ou menos falsos, mas têm um princípio. O que aconteceu nesta campanha foi destruição pura e dura.

Quem ganhou mais com isto? O PS. Nenhum dos temas que fragilizavam o partido do governo foi suficientemente explorado e definitivamente nunca estiveram na ordem do dia: as promessas por cumprir, o aumento de impostos, a regressão em todos os indicadores económicos, a política propagandista de anúncios não concretizados, fracasso na segurança e justiça...
Em vez disto fez-se a política de arremesso de lama. Isto justifica que o PS, apesar de no discurso ter defendido não querer falar de casos, na prática os tenha sempre trazido convenientemente para a ordem do dia.

Enquanto os outros partidos não conseguiram desgastar o PS face à sua acção governativa, os moldes em que a campanha decorreu fizeram-lhe uma espécie de reset, face aos "não-assuntos" em que se perdeu.

Dito isto, e não sendo um adivinho ao contrário de outros especialistas da praça, desta feita vou tentar adivinhar os resultados. Aqui fica o meu palpite, sem casas decimais:
- PS 35%
- PSD 33%
- CDS 9%
- BE 9%
- PCP 9%

Domingo logo se verá.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Maisfuteganeira... outra vez.

O maisfutemerda volta-nos a brindar com o seu brilhante "jornalismo". Não satisfeitos pelo constante bater no Benfica, agora atacam de forma patética o seu treinador.

Aqui o maisfutemerda alerta-nos que o Jorge Jesus (JJ) disse há um mês que não tinha tido nada a ver com a organização da pré-época do S. C. Braga, mas que agora vem reclamar o seu papel como construtor do plantel desse clube.

Certo, e depois? Construção do plantel é uma coisa, planeamento da época outra. O JJ disse que não foi responsável pela última, mas que os jogadores são praticamente os mesmos que tinha no ano passado.

Enfim, a maisfutemerdice do costume.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Fóruns da treta - o caso gildot


O gildot teve um período áureo em torno do ano 2000. Tinha sido criado há pouco tempo e estava a congregar muitos dos "tech savy" portugueses, graças a um esforço intencional de promoção por parte do seu criador, aliado a uma estratégia de agregação com outros sites do género que surgiam nessa época.

De forma natural muitos tornaram-se utilizadores do fórum, que funcionava com o modelo do popular slashdot (usava o mesmo software).

Com o seu crescimento, materializado num grande aumento de utilizadores, começou ironicamente o seu declínio. Poucos e maus editores, ausência de qualquer lógica na aprovação de artigos, evolução gradual para um sistema ridículo de funcionamento com regras idiotas, receptividade a utilizadores e editores imbecis, foram afastando os antigos, e por ventura mais valiosos, utilizadores do site.

Por outro lado começavam a popularizar-se blogs e fóruns, sistemas mais "livres" e definitivamente dinâmicos que o modelo slashdot, em que se baseava o gildot. Este evoluía assim para o pior dos dois mundos: pouco dinâmico por inerência do seu modelo, e de pouca qualidade por inépcia dos seus donos.

Gradualmente perderam-se as notícias, as contribuições, os bons comentários, resumindo, o interesse. E sem interesse, o fórum enquanto fórum desapareceu. À data em que escrevo isto o site continua teimosamente no ar, apesar de já estar "morto" há muito tempo.
E isto é um fenómeno interessante por si: é que os donos do site nunca tomaram a decisão de o fechar (como aconteceu com o ptnix), não houve bater de portas, nem despedidas melo-dramáticas como noutros lados. Simplesmente foi-se definhando... pura e simplesmente perdeu interesse.

No final do dia, de que me arrependo? Do tempo que lá perdi!

Impostos e receitas, quem os não quer?

O PSD, através da MFL, muito tem propagandeado o facto de não aumentar impostos caso ganhe as eleições, e se possível, até descê-los.

Acontece que o actual governo já tem programado um próximo aumento dos mesmos (independentemente do nome que se lhe dê), embora ainda não em efeito. Desta vez é o novo regime contributivo para a segurança social, que vai aumentar substancialmente as contribuições (obrigatórias) para este sistema por parte de empresas e trabalhadores independentes.

O PSD, que sem grandes pudores tem prometido cortar com algumas políticas do actual governo, e numa primeira fase criticou até este novo código contributivo, de repente ficou mudo sobre este caso e até, paulatinamente, lá vai dizendo que não vai mudar nada na segurança social, o que leia-se, significa manter o novo código e as respectivas receitas adicionais.

Por outras palavras: o aumento é para avançar, quer ganhe o PS, quer ganhe o PSD. Os primeiros obviamente, pois são os autores da medida. O PSD porque lhe interessa as receitas adicionais, e sendo estas da responsabilidade do governo anterior, embora só entrem em vigor em 2010, tanto melhor.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Debates para encher chouriços...

(grafismo: Sol)


Eis-nos chegados ao fim da série de debates entre os líderes dos partidos com representação na AR. Foram dois a dois, em sessões de 45 minutos, com os temas a voaram entre curtas intervenções.

Muito sinceramente... bullshit. Não é que qualquer debate não o costume ser, mas estes em particular abusaram. Além do tempo ser pouco, o formato dos mesmos foi pobre. O jornalista lança um tema e espera que em 2,5 minutos seja respondido com clareza, sem demagogia? Depois vira a agulha para o outro e muda-o? Ou retoma-o mas noutro contexto? Não funciona.

Com este modelo assistiu-se sobretudo à pequena trica política, às questões de pormenor, à sobre-argumentação de detalhes.

Ao PS interessava debates amorfos, para perder-se na pequena trica política que o favoreceria. Atirar responsabilidades para outros, procurar ou inventar falhas nos discursos e programas dos opositores, para afastar a atenção dos últimos anos da sua governação.

É sabido que ao partido de governo nunca interessa discutir a sua governação, como bem foi demonstrado por Cavaco Silva em 1991 que pura e simplesmente recusou qualquer debate que fosse.

Ao PSD interessava também estes debates sem sal, pois não são definitivamente o prato de Manuela Ferreira Leite. Quando mais estéreis e menos decisivos fossem, tanto melhor.

Aos ditos pequenos partidos, PCP, CDS e BE, interessava mais e longos debates, para se fortalecerem, explorando a ideia que os problemas da nossa sociedade são da responsabilidade dos dois maiores partidos, que a espaços têm partilhado por inteiro o poder, que são alternativa, etc...

O que sai disto tudo? Uma mão cheia de nada! Tirando alguns apontamentos, como as já tradicionais gaffes de Ferreira Leite, a normal cara de pau de Sócrates agora na vertente de cordeiro, a constante encenação de Portas, o descrédito programático de Louçã e o vazio do nacional "porreirismo" de Jerónimo, nada de muito substancial.

Afinal foi precisamente para isso que os debates foram negociados...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Método de Hondt e eleições: não é assim tão mau...

O método de Hondt costuma ser apontado como o "responsável" pela disparidade entre a percentagem de votos e a percentagem de deputados eleitos, mas o grande responsável por essa diferença nem é a aplicação do método em si, mas a separação da sua aplicação por círculos eleitorais.

Existem 22 círculos eleitorais, um por cada distrito do continente, 2 para as regiões autónomas (Açores e Madeira) e 2 para os portugueses residentes no estrangeiro (Europa e resto do mundo).

Pegando nos resultados das eleições legislativas de 2005, apliquei o método de Hondt aos resultados à escala nacional.

PartidoDeputados eleitos (% do total)Aplicado Hondt aos resultados nacionais (% do total)% real de votos
PS121 (52,61%)108 (46,96%)45,03%
PPD/PSD75 (32,61%)69 (30,00%)28,77%
PCP-PEV14 (6,09%)18 (7,83%)7.54%
CDS-PP12 (5,22%)17 (7,39%)7,24%
B.E.8 (3,48%) 15 (6,52%)6,35%
PCTP/MRPP02 (0,87%)0,84%
PND01 (0,43%)0,70%


Note-se que a percentagem de deputados que seriam eleitos caso tivesse sido aplicado o método de Hondt aos resultados nacionais não difere muito da percentagem real de votos em cada partido. A existência de círculos é que deturpa completamente a proporcionalidade dos votos expressos face aos deputados eleitos.

À escala nacional, pequenos partidos conseguiriam eleger um ou até mais deputados, enquanto os grandes teriam mais dificuldades em conseguir maioria absoluta.

Os partidos que elegeram deputados nestas eleições somaram 94,93% dos votos expressos, isto significa que os restantes 5,07% acabam por ser "redistribuídos em deputados" por estes partidos. Isto é um efeito moralmente perverso: alguém que vota num pequeno partido está a contribuir para o grande partido desse círculo ganhar deputados, mesmo que seja contrário à sua ideologia e propostas.

A existência de círculos em eleições de âmbito nacional é estranha, porque não só não faz grande sentido como condiciona os resultados finais.