domingo, 18 de outubro de 2009

Maitê, os brasileiros e Portugal.

Contexto: um curto vídeo amador realizado pela actriz brasileira Maitê Proença, que parodiava com Portugal e a sua cultura, foi divulgado na Internet. O vídeo causou uma polémica de grandes proporções.

Em relação ao vídeo, nem é tanto o seu conteúdo directo, mas o que representa: a patológica necessidade que os brasileiros sentem em falar mal dos portugueses.

Os brasileiros nascem num meio em que os portugueses são estereotipados de forma pouco abonatória (e injusta) e crescem com o estigma de que a culpa do seu atraso é dos portugueses.

Aos poucos essas atitudes vão tendo resposta deste lado. Sente-se que o que é brasileiro perdeu a influência e a "gracinha" que outrora teve. As telenovelas já não pegam, as músicas deles ainda vão passando, mas já não como antes. O sotaque brasileiro passou de engraçado a chato.

Não se percebe porque raio os portugueses adoraram o Brasil durante anos quando esse sentimento nunca foi recíproco, não se percebe porque nós tínhamos tanta abertura e receptividade à cultura deles mas eles eram completamente fechados à nossa, não se aceita que os brasileiros entre nós digam falsamente que nos adoram e quando se afastam falam mal, etc.

A Maitê Proença acabou por ser um escape. Fez um vídeo falhado, infantil, sem qualquer piada -- o que é comum de um modo geral às piadas que os brasileiros tentam fazer sobre portugueses -- e apanhou com tudo em cima, convenhamos que numa reacção completamente desproporcional.

Santana, Lisboa e ideias.

Santana perdeu as autárquicas para Costa. É certo que a vitória de Costa só foi viabilizada com o voto útil do BE e PCP para o PS, mas também não deixa de ser verdade que faltou algum élan a Santana.

Desta vez não houve o entusiasmo de outros tempos e as próprias ideias deixaram a desejar. Vamos ser práticos. A agenda de Santana centrou-se em meia dúzia de pontos de chave, entre os quais:
- expansão dos contentores do porto de Lisboa;
- saída do actual aeroporto da Portela;
- nova ponte só ferroviária;
- portagens para entrar na cidade.

Vejamos...

Contentores e porto
É um problema comum a todas as cidades portuárias: a existência de uma enorme estrutura que ocupa uma zona nobre da cidade, a zona ribeirinha, desfigurando a cidade, trazendo trânsito pesado e poluição para a mesma, etc etc e tudo para satisfazer uma necessidade nacional. O problema das estruturas com finalidades nacionais é óbvio, e não se limita aos portos (embora seja clamoroso nestes), mas são casos que têm de ser pensados como um todo, e não em decisões avulso, conforme o protesto desta ou daquela edilidade.

Aeroporto da Portela
Não creio que seja uma decisão a caber à câmara. Mais uma vez estamos a falar de uma infraestrutura nacional cuja decisão deve ser feita a esse nível. Independentemente disso, se se fizer o novo aeroporto em Portela, de grande capacidade, faz sentido manter dois aeroportos internacionais a menos de 30km de distância? Será economicamente viável ou mesmo necessário?

Nova ponte só ferroviária
Aqui já se trata de uma infraestrutura regional, ainda assim não municipal. Não é a câmara de Lisboa que decide qual o perfil da nova ponte, nem tão pouco se a vai haver ou não. Lisboa continua a olhar apenas para o seu umbigo. "Não queremos mais carros a entrar em Lisboa" é uma frase recorrente. Mas mais pessoas a entrar já querem, certo? Portanto não só querem mais pessoas, como querem decidir de que forma vêm, como entram, a que horas saem, etc. Francamente se se vai gastar dinheiro numa ponte nova e se a diferença de custo para uma ponte bimodal não for substancialmente maior, quanto maior fluidez em absoluto tiver, melhor!

Portagens para entrar na cidade
Ah! Finalmente um assunto municipal. Mas em terreno perigoso! Mais uma vez Lisboa olha para o seu umbigo apenas. Que se limite o trânsito nesta ou naquela artéria, neste ou naquela bairro, tudo bem. Cobrar para entrar em Lisboa de um modo geral -- mesmo sendo apenas em algumas horas do dia, para carros só com um condutor -- é retirar o direito à livre circulação. E é abrir um precedente perigoso. Que tal o Algarve começar a cobrar portagens nos acessos às praias durante o verão? Ah pois!


Tirando o caso dos contentores, que é um assunto bem mais complexo, com o devido respeito o resto ou pouco ou nada depende do município ou é um tiro no pé. Com Costa não vão haver grandes obras, grandes projectos, nem grande desenvolvimento. Basicamente Lisboa vai ter 4 anos de manutenção. Santana seria mais dinamizador, mas também mais problemático.


PS: não deixa de ser irónico que nas legislativas tanto se tenha apelado ao voto útil, tendo havido uma enorme votação "inútil", que bem fez crescer os pequenos partidos. Já nas autárquicas, em Lisboa, sem que ninguém os pedisse, eles vieram.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Europeias, legislativas, autárquicas e já está.

Pronto. Três eleições depois a que chegámos? Um PS que reergue a cabeça, com algum reforço moral embora em posição mais desconfortável do que tinha há 4 anos, um PCP destroçado, um CDS e BE sem saberem bem o que quer que seja e um PSD rebentado.

De resto foi um thriller interessante.

Vejamos...

Após quatro anos de contestação incontestada, descontentamento generalizado, e algumas trapalhadas à mistura em relação à governação de José Sócrates, este mantinha-se com uma áurea de invencibilidade democrática baseada em sondagens erradas.

Assim chega-se às europeias com o PS favorito. Só que perde e tem um resultado miserável (26,58% vs 44,53% em 2004). Entretanto Manuela Ferreira Leite, que já começava a ser contestada na altura por ser aquilo que é - FRACA, FRAQUINHA, FRAQUISSIMA - ganha um autêntico balão de oxigénio que a faz voar até as legislativas, convencendo-se mesmo que até as irá ganhar.

Como nesta vida não há milagres, a senhora destrói o partido e consegue o impensável, mesmo antes das europeias: ter um resultado ao nível do de 2005, em condições substancialmente melhores, e dar de mão beijada a maioria, embora não absoluta, a um partido que merecia deixar de ser governo. Pelo caminho os ditos pequenos partidos CDS e BE cresceram bastante, embora à sua escala. A CDU cresceu marginalmente mas perdeu relativamente influência.

Nesta "dinâmica", como lhe gostam de chamar no jargão dos analistas, de vitória do PS e derrota do PSD, este último, o grande colosso das autárquicas, perde cerca de 20 câmaras, ganhando o PS outras tantas. No meio o CDS e BE reduziram-se à sua insignificância política local e a CDU continua a perder influência.

Fim de história.
Agora venham de lá os abutres.

Resultados das eleições autárquicas...

O PSD ganhou mais câmaras e como tal é vencedor das eleições.

Em 2005 o PSD tinha 157 câmaras, agora tem 139 e perdeu Lisboa.
Já o PS tinha 109, mas ficou com 131.
A CDU tinha 32, passou a 28 (perdeu 7 e ganhou 3).
Tanto o BE como o CDS (isolado, dado que concorreu em muitas câmaras  coligado com o PSD), mantiveram a sua câmara unitária.
(resultados à hora em que escrevo isto)

Isto resumidinho, o PSD ganha mas com um amargo sabor de derrota, enquanto ao PS acontece precisamente o oposto.

Ao contrário do que diziam todos os "especialistas" da praça, é agora bastante claro que houve efeito contágio das eleições legislativas para as autárquicas. Apesar de serem eleições diferentes, com especificidades diferentes, a verdade é que a dinâmica de vitória do PS das legislativas influenciou de algum modo muitos dos resultados que se verificaram.

Também ao contrário do que diziam alguns "especialistas", com tanta câmara a mudar de mãos, não houve, NÃO houve uma tendência de continuidade generalizada, de forma a reeleger os que já lá estavam. Aconteceu em muitos casos, como sempre acontece, mas houve demasiados a mudar, como não é costume acontecer.

As sondagens da treta atacam outra vez.

Bem se queixou Santana Lopes e com razão. As sondagens deram-no sempre a 8, 9, 10% de Costa. Em especial as da Universidade Católica tendem a beneficiar uns (PS, BE) em prejuízo de outros (PSD, CDS). Isto numa leitura meramente factual da coisa.

Já se sabe que existem erros, tal e tal. Mas sempre para os mesmos? Há qualquer coisa que definitivamente não está a funcionar bem.

Voltando a Santana, a diferença final face a Costa foi de 5%. Mas sobretudo obrigou à contagem até às ultimas 4 freguesias, para se determinar com certeza qual seria o vencedor, e apenas após o fecho da penúltima freguesia se soube a distribuição de vereadores final (9 PS, 7 PSD e 1 CDU; durante muito tempo esteve no ar a hipótese 8-8-1). Ou seja, aquilo que eram favas contadas transformou-se numa luta renhida até ao fim. Muito longe da ideia que era transmitida dia após dia pelas sondagens.

O problema disto nem são tanto as sondagens per se, mas o valor que se lhes dá. E aqui os órgãos de comunicação têm toda a responsabilidade.  Porque lhes dão demasiada credibilidade por razões comerciais. Sempre que publicam uma sondagem, a ladainha é a mesma: "se as eleições fossem hoje ganhava o x com n, o y ficava assim e assado". Não! Não aconteceria nada disso. Se todos o sabemos, porque continuam a insistir na mesma parangona?!


PS: de qualquer forma desta vez, com ou sem sondagens, dificilmente Santana lá chegaria.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mirones da treta!

Mirones. Há-os em todo o lado e são uma espécie irritante.

Qualquer coisa que se esteja a fazer, por mais banal que seja, lá estão eles a controlar.

Depois há-os de vários tipos:
  • o passivo: limita-se a controlar à distância.

  • o ostensivo: fica todo o tempo da acção parado a controlar. Espécie comum de se encontrar enquanto se está a estacionar um carro ou em pequenos meios, quando passa uma pessoa ou veículo que eles não conhecem.

  • o desaprovador: além de controlar o que se está a fazer, vai esboçando gestos críticos de não concordância. Esta fauna é mais característica em aglomerados de pessoas e é frequente desaprovaram uma atitude qualquer dos pais em relação aos filhos (não estarem agasalhados como eles acham que deviam, por exemplo).

  • o intrometido: este controla durante algum tempo e depois decide-se mesmo a fazer conversa. São chatos, inconvenientes e despropositados. Além de não terem nada que fazer, algo comum a todos os tipos de mirones, de resto.

A todos os mirones deste mundo: arranjem uma vida!

Gato fedorento vs big brother.

Há uns anos estreava em Portugal o "Big Brother", na TVI. Um reality show que teve bastante sucesso. A TVI aproveitava o fenómeno do programa para, em jeito de publicidade e captação de audiência, fazer cobertura "noticiosa" do mesmo nos programas informativos (os chamados "telejornais"). Isso foi alvo de críticas, justamente, pois um programa de entretenimento não é notícia, salvo casos excepcionais dignos de nota.

Curiosamente agora passa-se o mesmo em relação ao "Gato Fedorento - Esmiúça os Sufrágios". O programa vai para o ar na SIC, e no dia seguinte é alvo de uma cobertura "noticiosa" no programa de informação desse canal. Só que agora não há polémica. E porquê? Porque o programa de entretenimento entrevista políticos e como tal já é notícia, mesmo que a conversa seja sempre em tom jocoso sem nada de substancial digno de nota informativa.

Calma! Gosto do GF e até aprecio o programa, mas que treta, aquilo é um programa de entretenimento e apenas isso.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Pressa para engonhar

Nunca repararam, no trânsito, quando alguém se "mete" à frente, apesar de não ter prioridade, apenas para logo depois continuar o resto do caminho a "molengar"? À frente, pois claro. Então qual era a pressa, afinal?

Alguém tem um ritmo lento ou vai notoriamente em passeio, mas perde todo esse vagar desde que seja para se pôr à frente de alguém, entrar na rotunda quando já lá vem outro carro, entrar no entroncamento sem prioridade...

É um dos comportamentos mais patéticos que eu assisto no trânsito, e com frequência.