domingo, 18 de dezembro de 2011

A suprema ironia das SCUTs.

As SCUTs foram construídas para que se pudesse andar em autoestradas sem pagar, mas não só acabam por ser cobradas, como irão causar que qualquer estrada com o mesmo perfil venha a ser paga. Na vertente do utilizador, claro.

Esta é a suprema ironia das SCUTs: como algo cujo fim era a gratuitidade acaba por ter o efeito totalmente oposto.

  1. as SCUTs são essencialmente uma aplicação financeira bastante rentável para as concessionárias;
  2. a pressão financeira que daí resultou para o estado levou a que fossem cobradas portagens nessas vias;
  3. a partir do momento em que são cobradas portagens começa-se a exigir o mesmo em vias equivalentes onde não há cobrança, ainda que não tinham sido construídas no mesmo modelo.

O Amado em parvo Lopes.

Havia um tal amado lopes que pululava pelos fóruns da usenet no passado. Notabilizou-se pelas suas idiotas técnicas de “discussão”: perdia-se numa argumentação circular, punha palavras na boca dos outros, era fanático e, enfim, no geral era simplesmente parvo. Acabou por ou desistir ou ser deixado a “falar” sozinho.

Há uns tempos “encontrei-o” a ser enxotado de alguns blogs conhecidos e, mais recentemente, andava perdido a comentar notícias num jornal online. Tanto tempo e nada aprendeu.

Isto explica também o mito da “mudança de mentalidades” quando aplicado ao indivíduo.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O cúmulo do ridículo.

Foi revelado em alguns blogs (eg, a mão de vata) o caso ridículo de uma fotografia de comemorações do Benfica ter sido alterada para servir como mote a outro clube.

Fotografia original:

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(foto 17 desta galeria)

A “outra”:

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Ex-plantel SLB.

Carlos Martins participa no empate em casa do Granada. Esta notícia, relativamente desinteressante note-se, chamou-me a atenção pela seguinte passagem: «Carlos Martins não foi titular mas entrou ainda na primeira parte, aos 38 minutos, para o lugar de Fran Rico. Jara, Yebda e Júlio César, todos emprestados pelo Benfica, foram suplentes não utilizados e Jorge Ribeiro não foi convocado.»

Tirando a imprecisão — Yebda é jogador do Granada e não está emprestado pelo Benfica — o que chama a atenção aqui é o estatuto de titularidade (1 suplente usado, 3 suplentes não usados e 1 não convocado) destes jogadores num clube como o Granada nem sequer ser melhor do era no Benfica. Isto reforça a ideia que muitas contratações na história recente do clube não foram as mais acertadas.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Coimas IUC de 2008 prescreveram?

Sobre as coimas que as Finanças têm estado a enviar relativas ao atraso do pagamento do IUC de 2008, por isto estar a ser feito com 3 anos de atraso, existe a questão óbvia se o procedimento de contra-ordenação teria prescrito.

Segundo o RGIT não. Pelo artigo 33º:

1 - O procedimento por contra-ordenação extingue-se, por efeito da prescrição, logo que sobre a prática do facto sejam decorridos cinco anos.

Mas segundo o ILÍCITO DE MERA ORDENAÇÃO SOCIAL já prescreveu, pois pelo artigo 27º:

O procedimento por contra-ordenação extingue-se por efeito da prescrição logo que sobre a prática da contra-ordenação hajam decorrido os seguintes prazos:

a) Cinco anos, quando se trate de contra-ordenação a que seja aplicável uma coima de montante máximo igual ou superior a (euro) 49879,79;

b) Três anos, quando se trate de contra-ordenação a que seja aplicável uma coima de montante igual ou superior a (euro) 2493,99 e inferior a (euro) 49879,79;

c) Um ano, nos restantes casos.

Um ano nos restantes casos… enfim…


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os arredondamentos das multas/coimas.

O mesmo estado que tornou ilegal os arredondamentos dos juros efectuados pelos bancos nos empréstimos, é o mesmo estado que arredonda ou impõe mínimos nas cobranças que faz.

Vejamos o caso do IUC, relativo ao atraso de pagamento. Para um contribuinte individual o valor da coima é 5% do valor pago em atraso, num mínimo de 15 eur.

Ou seja, um banco arredondar taxas de juro ao quarto da unidade (1,12 passava a 1,25), por exemplo, é ilegal. Mas um contribuinte ter que pagar 15 eur em vez de 7 ou 8 eur, já está tudo bem.


As coimas IUC de 2008.

Parece que começaram a chegar uma série de coimas (erradamente designadas por muitos como multas, embora se perceba a ideia) relacionadas com o IUC, mas com uma particularidade: tratam-se de coimas por atrasos de pagamento do IUC de 2008. Que chegam em Novembro de 2011…

2008 foi o primeiro ano em que o IUC foi introduzido. Creio que era prática corrente na DGCI não haver penalizações por questões de prazos nestas alturas, por ainda ninguém saber como as coisas funcionavam, desde os funcionários às vítimas (contribuintes). Passado algum tempo, depois dos processos serem conhecidos e estarem afinados, começavam-se a cumprir os preceitos legais.

Tudo leva a crer que foi isso que aconteceu nas reformas dos impostos sobre o património (IMI, IMT) e sobre os automóveis (IUC, ISV). No primeiro ano não houve cobrança de coimas por atrasos ou por pequenas irregularidades, porque ninguém sabia ao certo como as coisas se processavam.

Até agora. E porquê? É sabido que a DGCI tem prémios por objectivos de cobrança fiscal. Quando se aproxima o final do ano, com os objectivos cronicamente por cumprir, vão surgindo várias ideias “inovadoras” para aumentar a cobrança. Para que os objectivos sejam cumpridos.

Para isso basta aproveitar o gigantesco caixote de lixo punitivo que é a nossa legislação. Há sempre uma alínea disponível para roubar dinheiro às vítimas-contribuintes. Este ano bastou repescar os atrasos do IUC de 2008. Os de 2009, 2010 e os entretanto decorridos de 2011 não, porque esses já foram cobrados no processo normal, depois de estabilizado após a sua introdução.

Já em 2008, nesta altura do ano, foram repescar uma declaração inútil que era obrigatória ser entregue por lei 1 e que, nunca o tendo sido feito anteriormente por virtualmente ninguém, foi aproveitada para lançar cerca de 300 mil processos a trabalhadores independentes (vulgo recibos verdes), com o custo de 250euros por ano não entregue. Aí a coisa foi demasiado grande e óbvia para passar e até os políticos foram obrigados a intervir para parar com a desfaçatez.


  1. a história da escravidão face a leis cegas e/ou idiotas, apenas porque “está na lei” tem que se lhe diga, mas fica para outro artigo.


Estado sacana.

Ao longo dos anos o estado tem mostrado ser uma figura má. Se isto fosse um filme, o estado era o vilão. Aqui por estado refiro-me não ao conceito do estado oficial — que exclui o poder local, por exemplo — mas a todo o sector público, desde o administrativo ao empresarial.

Talvez a principal razão destes comportamentos se deva à figura quase abstracta do estado. O estado não é ninguém em concreto, apesar de ser dirigido e operado por pessoas reais. Juntando coisas como o legado histórico e a dimensão do sistema, temos o contexto perfeito para a desresponsabilização.

Com este artigo abro uma nova secção para ir apontando a malvadez ou simplesmente estupidez estatal: o estado sacana.


E se consertasses o estádio?

Mesquita Machado, presidente de câmara há cerca de 35 anos, investigado por indícios de corrupção, ex-detentor de cargos no futebol profissional, patriarca de uma família enriquecida à conta de negócios feitos na câmara que preside, personifica para mim o que pior há na sociedade portuguesa.

Enquadra-se na figura do político carreirista, que acumula “n” cargos díspares, envolvido em negociatas obscuras de onde saem beneficiados familiares e amigos, alimenta-se e promove a promiscuidade de interesses entre o futebol e a política.

  • Alguns dos cargos que desempenha ou desempenhou: presidente da Câmara Municipal de Braga, secretário de Estado do Fomento Cooperativo, membro da Comissão Nacional do PS, presidente da Mesa da Assembleia da Federação Distrital de Braga, deputado, presidente do Sporting de Braga, presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Federação Portuguesa de Futebol, membro da Comissão de Reserva Agrícola do Norte, presidente do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, membro do Comité das Regiões da União Europeia.

  • Notícia do C.M., de 14 de Fevereiro de 2009, sobre a investigação que foi alvo: «Mesquita Machado, presidente da Câmara de Braga há 32 anos, tem uma considerável fortuna pessoal e o seu “olho” para o negócio parece ter passado para a família. Cláudia, Francisco e Ana Catarina, agora com 38, 35 e 31 anos, apresentam níveis de vida faustosos, bastante superiores ao rendimento que declaravam.»

  • As suspeitas de negócios estranhos levaram o CDS-PP a questionar por algumas vezes as suas operações: «(…)o CDS-PP acusou o Sporting de Braga de ser “barriga de aluguer de empreiteiros”. Queria saber o paradeiro do dinheiro resultante de urbanizações e bombas de gasolina construídas em nome do Sporting de Braga e do ABC e que, entretanto, passaram para as mãos de empreiteiros bracarenses.»

E no meio de tanta coisa o senhor nem é capaz de manter o seu estádio municipal em condições para disputar um jogo da 1ª liga de futebol.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Porque fede o Braga?

Há muito que o ambiente em Braga começou a feder. E fede especialmente em relação ao Benfica, além do rival clássico de Guimarães.

Desde que Jesus chegou ao Benfica o fedor aumentou. Todos os jogos têm casos. Há dois anos foram as agressões do banco do Braga ao Benfica no intervalo, no ano passado foram as bolas de golfe, importadas do Porto e este ano foram os cortes de luz. Há sempre qualquer coisa.

E no meio de tudo isto o Benfica vai sendo sorrateiramente prejudicado desportivamente em campo: há dois anos um golo mal anulado ao Benfica e uma expulsão injusta a Cardozo que foi ele próprio agredido em frente a elementos da equipa de arbitragem, no ano passado uma expulsão injusta a Javi Garcia que sofreu ele próprio uma entrada faltosa e este ano um penalti sofrido inexistente, dois vermelhos por exibir aos de Braga e um penalti perdoado aos mesmos. Começa a ser demais: demasiados casos, demasiados incidentes, sempre o mesmo beneficiário.

É certo que o anti-benfiquismo tribal já deu frutos a outros clubes próximos, mas não é menos certo que clubes há que em nada têm beneficiado com isso. Querer crescer alimentado pelo ódio é um mau e perigoso princípio.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

What's NOT hot on Google+

Infeliz a ideia da Google ao lançar um “What’s hot on Google+” e pregá-lo no topo da stream de todos os utilizadores, sem possibilidade de remoção. É estúpido e abusivo.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A lição de Schindler.

A vida de Oskar Schindler, da fama da lista e que salvou cerca de 1200 judeus de uma previsível morte, encerra uma lição pouco óbvia mas pertinente.

Antes da guerra Schindler era um empresário fracassado: por várias vezes lançou negócios e todos eles fracassaram.

Oportunista, aproveitou a invasão da Polónia pela Alemanha para tentar o sucesso nesse país. Tomou controlo de uma fábrica falida que recuperou com o trabalho de 1000 trabalhadores-escravos judeus, com a complacência do regime Nazi. Tornou-se rico e passou a ter uma vida luxuosa. Ao mesmo tempo levava uma vida de corrupção que lhe permitia manter o estado das coisas: comprava favores com favores, prendas e dinheiro, subornava, etc.

Depois da guerra, regressou à condição de empresário fracassado: tentou vários negócios, na Alemanha e na Argentina, que inevitavelmente faliram. Viveu de apoios de organizações judaicas, reconhecidas das suas importantes acções durante a guerra e mais tarde de subsídios do governo alemão. Morreu sem qualquer bem.

Pondo de lado as suas acções heróicas, há um facto que se pode concluir: Schindler não era um bom empresário nem tinha particular jeito para o negócio. Só teve sucesso nessa área quando esteve enquadrado numa sociedade corrupta, cruel e exploradora de qualquer aspecto da condição humana.

Esta é uma excelente lição: o sucesso não funciona a qualquer preço. Corrupção, exploração da condição humana, são factores que condenam ao fracasso. É só uma questão de tempo.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Marcelo critica Cavaco.

Marcelo Rebelo de Sousa diz que Cavaco Silva tem falado de «forma desastrosa».

(…) apesar de concordar com o conteúdo das mensagens de Cavaco Silva. (…) «a forma e os locais para dizer coisas importantes» escolhido por Cavaco Silva não têm sido apropriados, «seja no Facebook ou a entrar e a sair de eventos».

Duas coisas interessantes nesta notícia:

  1. Continua-se a dar mais importante à forma que à substância. Infelizmente.
  2. Marcelo critica Cavaco por falar em locais não apropriados. Se ele próprio é um fala-barato em qualquer lado, é então um mau prenúncio como hipotético presidente da república.

Equidade, públicos e privados.

As medidas draconianas inscritas no orçamento de estado 2012 (OE2012) provocaram uma onda de discussões e artigos um pouco por toda a parte. Curiosamente em tantas análises não vi debater a questão do aumento do desemprego e os efeitos isso terá no défice.

Com a previsão do OE2012 de 13,4% para a taxa de desemprego 1, é justo assumir que os valores reais (oficiais) sejam algo maiores, talvez nos 14 a 14,5%. Como o desemprego afecta sobretudo os trabalhadores do sector privado, as questões de equidade que têm sido levantadas deixam de fazer grande sentido pura uma razão meramente numeraria: independentemente da sua justiça, o governo não só não tem qualquer garantia de aumento de receitas vindas do privado, como ainda pode ver a despesa pública aumentar à sua conta.

É que com mais 100 mil pessoas sem trabalho 2, são mais 100 mil subsídios de desemprego que se pagam 3 e 100 mil salários que se perdem, deixando de pagar IRS.


  1. actualmente a taxa oficial de desemprego é de 12,3%.

  2. em 2010 havia 602 mil desempregados, actualmente a contagem vai em 686 e a crescer, e segundo o OE2012 vão haver “apenas” 60 mil novos desempregados durante 2012 inteiro? Completamente incredível!

  3. se o número de desempregados tiver um aumento significativo acredito que o subsídio de desempregado sofra uma forte redução para conter o aumento da despesa.


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

IMI, avaliação e chico-espertismo.

O valor do IMI que se paga anualmente é a taxa definida pelo município vezes o valor em que a casa está avaliada.

Os intervalos da taxa são fixados pelo governo. Actualmente variam entre 0,2 e 0,4%, para o ano de 2012 vão passar a variar entre 0,3 e 0,5%. É conhecido que a maioria das câmaras opta pela taxa mais elevada.

Além da taxa o imposto depende do valor com que a casa foi avaliada, pelo que o processo de avaliação é claramente importante neste aspecto.

A fórmula de avaliação é um comboio de multiplicações para obter o “valor certo”. Muitos desses factores multiplicativos são coeficientes de qualquer coisa, cujo valor base é 1. Acima de 1 representa uma valorização da casa, logo penalização no imposto, representando o oposto valores abaixo de 1. Um desses coeficientes é o de vetustez e está definido por lei entre o máximo de 1 para casa mais recentes e mínimo de 0,4 para casas mais antigas. Portanto depende da idade da casa, logo é automaticamente variável com o tempo.

Apesar disso as avaliações base não são recalculadas periodicamente para tomar em conta com a diminuição deste valor, apesar de já se saber que varia para baixo, fazendo diminuir o valor da tributário.

Poder-se-ia até pensar que seria uma trabalho demasiado oneroso proceder a tal actualização periódica. Até se compreendia, caso não houvesse já uma actualização periódica prevista e efectuada, como disposto em:

ARTIGO 138.º - Actualização periódica

Os valores patrimoniais tributários dos prédios urbanos são actualizados trienalmente com base em factores correspondentes a 75% dos coeficientes de desvalorização da moeda fixados anualmente por portaria do Ministro das Finanças para efeitos dos impostos sobre o rendimento.

Resumindo, de 3 em 3 anos o valor tributário aumenta “auto-magicamente” originando um imposto maior. Mas a redução automática pela idade do imóvel já não acontece.

Seja como for, fica a dica:


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Contos de uma dívida da República.

Portugal coloca montante máximo e arrecada 1500 milhões de euros.

O que tem esta notícia de interessante? Destaco 3 coisas:

  1. «“(…)na dívida a 3 meses esperava que Portugal conseguisse dinheiro emprestado a um juro mais baixo, porque ainda ontem a Grécia emitiu 1500 milhões de dívida a 3 meses e conseguiu uma taxa de 4,61%. Nós hoje conseguimos 4,972%.”»;
  2. «No leilão de Bilhetes do Tesouro a 3 meses (…), sendo que neste leilão a procura foi duas vezes superior à oferta.»;
  3. «Já no leilão de Bilhetes do Tesouro a 6 meses, (…). Neste leilão a procura superou 3,7 vezes a oferta».

3 notas:

  1. Expliquem-me outra vez a história dos mercados serem racionais e depois a parte de Grécia conseguir juros mais baixo.

  2. E já agora também me faz confusão ouvir a toda a hora que Portugal está na iminência de ficar sem financiamento quando qualquer colocação de dívida no mercado regista sempre procura N vezes superiores à oferta…

  3. Lançamento de dívida a 3 e 6 meses? Não percebo. Só olhando para os 1000 milhões lançados a 3 meses a cerca de 5%, representam 12 milhões em juros… em 3 meses. Que eu perceba a necessidade de ter o dinheiro já, até percebo, mas se é para pagá-lo em 3 meses com um prémio de 12 milhões pelo caminho, já não percebo: se não há dinheiro agora, também não vai existir daqui a 3 meses, muito menos com esse prémio à cabeça. Algum sentido nisto deverá haver, certamente, gostava era de perceber qual.


Frutas em baixo?

Aparentemente o afrutalhado do expresso reduziu a sua participação. E há muito que já não fala de futebol… talvez por alguns resultados recentes?

Seja por que for, boas notícias para o expresso!


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Fundos de pensões e trafulhice.

Desde há uns anos que os vários governos têm usado o expediente de transferir fundos de pensões para o estado com a finalidade de baixar o défice orçamental. A ideia é simples: transfere-se o valor dos fundos para o estado, obtendo-se receita imediata nesse ano, a troco do estado ficar com os encargos das futuras reformas que esse fundo iria pagar.

A ideia é boa se o estado não for trafulha. Ficar com os fundos e mais tarde não pagar as reformas ou pensões nas mesmas condições que seriam pagas pelo fundo é trafulhice e seria até criminoso num país honesto.


sábado, 15 de outubro de 2011

Passos passou-se! (II)

Posto isto, eis algumas medidas para o Orçamento de Estado 2012:

  • Aumento, via reescalonamento, de IVA em vários produtos, nomeadamente conservas, restaurantes, bilhetes para espectáculos.

    O governo esperará certamente arrecadar mais dinheiro aqui mas de certeza que espera que a actividade nestes sectores abrande, especialmente face a outras medidas de diminuição de rendimento. Portanto, menos rendimento e preços mais caros, vai significar menos consumo e mais receita. O estado continua a financiar-se, a alimentar o seu despesismo incontrolável à custa de redução de actividade da população, ainda mais nestes casos, em que muita dela é originada dentro de portas.

  • Fim se subsídios de férias e Natal para os funcionários públicos (FPs).

    Não sendo FP, está-se a passar um pouco dos limites aqui. Os FPs não podem ser tratados como um corpo único, há que distinguir actividade a actividade, pessoa a pessoa até, se for preciso. Não podemos, enquanto país, limitar o desenvolvimento profissional de pessoas só por serem FPs, por arrasto da redução de custos. Se o estado quer poupar dinheiro na folha salarial dos FPs tem que despedir excedentes! Do sector privado já se diz que não faz sentido esse corte no sector, precisamente porque já têm métodos de optimizar e controlar os custos salariais por um lado, e por outro porque querem gente com dinheiro nos bolsos para consumir! Outro possível problema é que com a degradação das condições para os FPs os melhores vão começar a sair, degradando-se cada vez mais o serviço público, que já é tão mau em tantos casos!

  • Mais meia hora de trabalho diário.

    Em primeiro é uma excelente medida para aumentar o desemprego: matematicamente 16 pessoas irão trabalhar tanto como 17 actualmente. O que significa que para a mesma actividade económica poderá representar até um máximo teórico de 6% de desemprego. Na prática as coisas estão longe de serem tão lineares mas terá certamente impacto. Por outro lado poderá levar a aumento de produção que não seja escoada devido ao abrandamento do consumo, também à degradação da vida das famílias (pessoas que saem actualmente à justa para ir buscar os filhos ou para realizar actividades particulares, por exemplo).

Enfim, o tempo dirá como estaremos dentro de um ano.


Passos passou-se! (I)

As novas medidas de austeridade anunciadas para o Orçamento de Estado 2012 são dignas de um filme entre a ficção e o terror. Ficção porque dificilmente serão cumpridas sem o país entrar em ruptura. Terror porque levam o país à ruptura… destruindo a vidas das pessoas.

Um ponto prévio: o mundo está cheio de pessoas que sabem tudo quando não são elas a fazer. Essas pessoas têm as soluções, no papel ou na conversa, para todos os problemas mundiais, só que nunca os resolvem. Por isso há que ter sempre bastantes reservas quando se fala das falhas dos outros.

Têm sido várias as equipas a governar e nenhuma delas foi capaz de obter bons resultados nos último 10 a 20 anos. Talvez não seja tão fácil como muitos pensam que é. Por outro lado, se as nossas expectativas são sistematicamente defraudadas e se sistematicamente os governos fazem na prática o oposto do que haviam dito, isso é sinal de que ou são incompetentes — e por arrasto só existirão incompetentes a chegar ao governo nesses tais últimos anos, o que no mínimo seria uma questão de grande azar — ou algo de muito sério e grave se passa no país, nomeadamente a nível de contas, e aí temos o direito de ser informados, coisa que não acontece.


Algumas confirmações...

Nestes dias surgiram alguns exemplos que confirmam coisas sobre as quais tinha escrito por cá.

  1. Sobre a política via notícias ou notícias via política dois exemplos:

    1. No próprio dia em que é noticiado que Governo pondera introduzir novas portagens de Norte a Sul o Ministério da Economia desmente alargamento do pagamento de portagens.

    2. Dizia eu então: «(…) em vez de 30% de aumento da electricidade, esta poderá aumentar “apenas” 15%». Surgiram hoje notícias que o aumento da electricidade será de 5%… (embora estes aumentos da electricidade sejam uma ciência oculta que costumam esconder más-novas futuras).

  2. Ainda sobre as agressões de jogadores do porto na Luz soube-se que o árbitro “assegurou que tudo começou devido à exaltação de Fernando Oliveira, segurança do FC Porto, em relação aos Assistentes de Recintos Desportivo (ARD) que se encontravam no local. Frisou, no entanto, que não vislumbrou qualquer gesto provocatório por parte dos ARD (…)”. Continuam as provas a esclarecer o que se passou na realidade, bem como a demonstrar toda a farsa circense montada pelo clube do porto para branquear essa situação e ainda tirar proveito psicológico com isso.


Steve Jobs, Dennis Ritchie

Steve Jobs morreu a 5 de Outubro de 2011. O mundo comoveu-se e prestou-lhe uma devida homenagem, a uma escala verdadeiramente global. Até Cavaco Silva lamentou a perda.

Dennis Ritchie terá morrido a 12 de Outubro de 2011. Foi-lhe prestada uma homenagem moderada sobretudo em meios técnicos e mais fugazmente em alguns meios generalistas.

Dennis Ritchie, também conhecido pelas suas iniciais dmr, que designavam o seu username de sempre, foi um dos pioneiros da computação actual, criador da linguagem de programação C e co-autor do sistema operativo Unix. A sua influência em grande parte da tecnologia moderna é inegável.

Logo surgiram indignações pela diferença da proporcionalidade das reacções a ambos os óbitos. Steve Jobs teria sido endeusado, Dennis Ritchie ignorado.

Neste meu modesto e insignificante cantinho peço que se deixem disso. Tenho a certeza que dmr não daria qualquer importância a este tipo de coisas.

Percebo a crítica mas é algo com que já sabemos contar. Steve Jobs era uma estrela, estava para os CEOs das tecnológicas como a Madonna para a música. Tinha uma enorme massa de fãs e era uma figura pública com muito tempo de antena. dmr era um técnico (de excelência). Estava reformado, de vez em quando dava umas entrevistas a publicações técnicas, era reservado e não era estrela nenhuma. Até a sua morte foi reservada. Ainda hoje não se sabe ao certo a data, inicialmente falou-se em 8 de Outubro, agora fala-se em 12, mas a única certeza é que a notícia foi dada ao mundo no dia 14 pelo seu ex-colega e amigo Rob Pike, via google+, sem grandes detalhes.

Podemos criticar o, talvez exarcebado, valor que a sociedade presta a tudo o que é mediático em contraste com a forma que ignora o que não é. Mas que interessa isso? No final não tem qualquer importância.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

As agressões no estádio da Luz, 2009/2010.

Já se sabia que todo o folclore criado em 2009/2010, quando alguns jogadores do porto agrediram seguranças do Benfica no estádio da Luz após terem sido derrotadas em campo, tinha como finalidade a sua vitimização, desculpabilização das acções e redução de penas.

Após tanto folclore e palhaçada conseguiram parcialmente alguns dos seus objectivos. Ainda tentaram colar o epíteto de campeonato dos túneis à competição desse ano, mas tal desígnio apenas se materializou na mente de fanáticos influenciáveis, sem capacidade para mais.

Passados dois anos lá surge o pachorrento ministério público a deduzir(?) acusação contra 5 jogadores desse clube, dando como provadas as agressões bem como o seu dolo.

É óbvio e expectável que o efeito desta acusação seja a nulidade de sempre em termos práticos, mas pelo menos desmistifica as teses de vitimização, provocações e a desculpabilização das agressões que tentaram criar há dois anos.


Notas de um Dinamarca 2 - 1 Portugal.

Nestes dias a selecção nacional de futebol já não me desperta o interesse doutros tempos. Ao contrário do clube ao qual existe uma ligação irracional — que ainda também passa por maus momentos de quando em vez — numa selecção precisamos de nos identificar com o treinador, com os jogadores, etc, o que não acontece comigo actualmente.

Posto isto aconteceu o Dinamarca 2 - 1 Portugal, último jogo da qualificação de grupos para o europeu 2012, que relegou a equipa nacional para o chamado playoff. Algumas notas:

  1. após um mau arranque com 1 empate e 1 derrota entra Paulo Bento (PB) que faz uma série de 5 jogos oficiais vitoriosos, apesar do fraco nível da exibição em alguns deles;

  2. esta derrota final, não sendo um desaire no quadro de resultados — tirando os 2 primeiros jogos que não da responsabilidade PB, os outros traduziram-se por vitórias — é um desastre de jogo;

  3. olhando para o quadro de resultados final vêem-se algumas coisas preocupantes para o futuro luso na competição:

    1. demasiadas equipas demasiado fortes: Espanha, Alemanha, Itália, Holanda, …
    2. Portugal demasiado fraco, ao nível de uma Noruega, Irlanda, Bósnia, Croácia, Estónia…
  4. fica a ideia de PB não ter conseguido criar um “corpo” nem uma união entre jogadores. As convocatórias fazem pouco sentido (o que depois das paranóias aleatórias de Carlos Queiroz esperava-se não voltar a acontecer), há muitos jogadores “queimados”, há muitos jogadores que se auto-excluíram…

  5. má defesa. Mesmo que Portugal se apure para o europeu, qual a qualidade da equipa que vai apresentar? A actual defesa é demasiado má… com alguns dos melhores nessas posições afastados;

  6. as boleias da selecção. Tudo o que orbita em torna da selecção deveria ser impoluto: livre de clubismos, negócios e políticas. Muito mau as companhias que se colaram à equipa neste último jogo;

  7. “Comigo, já estávamos no Euro. A qualificação teria sido natural.” — Carlos Queiroz (CQ). Pronto, é oficial: o homem estupidificou de vez. Como pode alguém dizer isto quando há dois anos levou a cabo uma qualificação miserável, que também teve de ir a playoff, inclusive ficando atrás da mesma Dinamarca? CQ foi vítima de atitudes nojentas por parte da federação e do governo, mas isso não justifica que seja estúpido, nem tão pouco lhe confere um estatuto de consultor especial opiniático de qualquer assunto referente à selecção nacional, algo que aparentemente julga ter.

  8. também era fina “ironia”? (imagem de mastergroove2010)

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domingo, 9 de outubro de 2011

A justiça das provas ilegais.

CASO BCP — Berardo confiante na justiça [mesmo] após juiz declarar nulas as provas que apresentou.

Prepara-se a justiça portuguesa para, mais uma vez, branquear um crime por ilegalidade de provas? É um “filme” já visto e com um mau desfecho: os criminosos de facto, impunes, acabam por reincidir nas mesmas práticas criminosas ou servir de exemplo a futuros criminosos.


Os profetas da desgraça.

Portugal está na bancarrota e não vai cumprir a dívida:

«O Bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, disse sexta-feira à Agência Lusa que o País está na bancarrota e que Portugal não vai conseguir saldar a dívida.»

Desde que a situação financeira do país se agravou que praticamente não passa um dia sem que algum “adivinho” faça previsões com elevado grau de certeza sobre o nosso futuro. Seja nacional ou estrangeiro, eles sabem com exactidão o que vai acontecer.

Nestas coisas os miúdos têm uma simplicidade fantástica e infalível… “quanto é que apostas?”. No meu tempo isso era suficiente para que os “sabe tudo” recuassem subitamente nas suas certezas absolutas. Excepto, claro, aqueles cheios de si que apostavam “o que quiseres” apenas para não respeitarem o apostado, sem honra e cobardemente, quando perdiam.

Portanto, a não ser que apostem qualquer coisa, o que seria efectivamente uma notícia, era óptimo que estes profetas se calassem com a conversa que já enjoa, e há muito que deixou de ser notícia.


sábado, 8 de outubro de 2011

João Malheiro vs Sousa Tavares

Neste blog é transcrita uma crónica em que João Malheiro critica violentamente um tal Tavares, referindo-se ao incontornável opiniático.

Apesar do tema ser futebol, mais focado na vertente clubista, destaco a seguinte passagem:

O Tavares debita, debita, debita... Debita baboseiras, debita asneiras, debita calinadas.
O Tavares, há anos, teve o desplante de dizer que era mais difícil ser portista em Lisboa do que muçulmano na Bósnia.
O Tavares pode ser levado a sério? O Tavares não entende nada de bola.

… que acerta em cheio. O problema não é não entender nada de bola, é entender pouco do que fala. E fala muito e de muito. Desde desporto a política, tornou-se um profissional de opinião. No ano passado tentou voltar a fazer jornalismo com um programa da área que se saldou por um fracasso total.

Há uns anos esse Tavares publicou um artigo cujo título referia Mário Lino, na altura ministro das obras públicas, e usava uma pretensa viagem de Espanha com uma amiga Brasileira para criticar a política de obras públicas seguidas no país. O tema até era pertinente mas o artigo era totalmente ridículo: o suposto diálogo mantido com a amiga era inventado — referia coisas factualmente incorrectas, impossíveis de se terem passado — e a esmagadora maioria de argumentos expostos ao longo do texto estavam deturpados ou simplesmente errados. Esta é de resto a sua imagem de marca: mal informado, recorre a mentiras e deturpações para defender as suas obstinações, algo que se convenciona de desonestidade intelectual.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A falência das discussões web?

Ainda sobre a saga da comunicação na internet (I, II, III, e IV)…

Em Abril de 2004, numa troca de ideias sobre a falência das discussões na web, escrevia o seguinte:

«Actualmente o panorama de comunicação via internet é vasto e recheado de escolhas, tanto ao nível de protocolos como software que os implemente.

O velhinho mail continua a ser o campeão da comunicação mas os novos messengers e companhia são práticos para conversas em tempo real.

A nível da web, generalizou-se há uns anos (em Portugal, cerca de 1998) os fóruns de discussão. Tratava-se então de transpor o conceitos dos newsgroups para sites web, implementados através de CGIs. Mais recentemente (~2002) começou-se a popularizar o conceito de web log (blog), uma espécie de diário na web, onde cada pessoa regista os seus pensamentos e ideias para outros lerem e eventualmente comentarem.

Tem-se assistido nestes últimos anos ao crescimentos de blogs e simultaneamente ao desaparecimento dos fóruns de discussão web. Os blogs serão um fenómeno transitório: uma só pessoa não consegue produzir sistematicamente conteúdos interessantes. Pelo menos mais do que um conjunto de pessoas igualmente capazes. Daí se estranhe a falência que os fóruns web têm registado.

Alguns dos fóruns web fecharam por razões financeiras. Existiam para ter algum revenue e, ao falhar esse aspecto, os seus autores decidiram fechá-los. Outros, que funcionavam sem fins lucrativos e com base no esforço dos próprios autores, fecharam por falta de interesse destes. O que resta actualmente são alguns resistentes, que independentemente do tempo que durem ainda mais, encontram-se já em falência de conteúdos…»

Passados mais de sete anos achei interessante este texto, particularmente no contexto nacional. Muitas coisas que dizia então acabaram por se verificar: a maioria dos fóruns da velha guarda definharam lentamente (ver caso gildot, já cá falado) e os blogs entraram num declínio relativo, tal como os fóruns em geral.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O cemitério web.

Além do fenómeno copy-paste da internet, outro aspecto menos positivo é o cemitério web que tem crescido continuamente. É composto por projectos inacabados, testes, tentativas, experiências, etc, que nunca chegam a ser limpos.

A nível de domínios até existe uma boa reciclagem porque como a subscrição tem duração limitada e é paga, quem não está interessado acaba por não pagar, libertando o domínio. Mas no caso de subscrição em grandes plataformas gratuitas isso não acontece. Desde emails, blogs abandonados muitos sem uma única entrada, fóruns a projectos de software é incrível a quantidade de “coisas mortas” existentes, que ainda assim mantêm presença na rede e ocupam nomes por vezes até bem interessantes.


O flop Soares Franco.

Pouco depois de uma tão inesperada quanto incompreensível candidatura de Soares Franco à presidência da Federação Portuguesa de Futebol, surge agora a sua desistência.

A mesma pessoa que a 8 de Setembro de 2011 dizia “Nesta fase da minha vida profissional creio que estão reunidas as condições para assumir uma candidatura à FPF”, a 5 de Outubro de 2011 já dizia o oposto “Considero que não se encontram reunidas as condições mínimas para desenvolver o meu projecto ou sequer disputar, livre e construtivamente, a presidência da Federação”.

Fica a ideia dum frete que estaria a ser feito a alguém que entretanto deixou de precisar.


Privatizar lucros, nacionalizar prejuízos... ou não?

Com o advento da crise financeira de 2008 e as consequentes intervenções por parte de vários estados para estancar o colapso de algumas instituições privadas, surgiu a máxima “privatizar lucros, nacionalizar prejuízos”.

Esta catch phrase era uma crítica aos sistemas capitalistas que defendiam o livre funcionamento dos mercados, sem intervenção estatal, mas aparentemente apenas enquanto as empresas fossem lucrativas. Quanto estas se começaram a desmoronar o estado interveio, contrariando as teorias capitalistas, ao suportar os prejuízos dessas empresas.

É uma máxima demasiado fácil e óbvia para se resistir, mas falha na análise leviana da parte da privatização de lucros [por parte de privados]. Os lucros não são “privatizados” porque já são privados: foi o privado que gerou ganhos e ficou com uma parte desses ganhos após impostos e outras despesas. É como dizer que as pessoas comuns privatizam o remanescente dos seus salários após impostos mas nacionalizam os seus prejuízos em caso de doença e desemprego, ou seja, ridículo. Na realidade, tanto num caso como noutro, é o estado que nacionaliza parte dos ganhos produzidos pelas pessoas e empresas através de impostos.


Os assaltos do século XXI.

Tribunal critica “entidades públicas esfomeadas de dinheiro”.

Tornando a história curta: em 2007 uma entidade pública aplicou uma coima desproporcionalmente grande face a uma pequena irregularidade detectada na livraria Barata pela ASAE. No apelo à justiça feito pela livraria, o tribunal criticou a decisão argumentando que as “entidades administrativas andam esfomeadas de dinheiro e aplicam coimas enormes aos pequenos comerciantes, esquecendo frequentemente a pena de admoestação”.

Por uma vez que seja concordo em pleno com o tribunal. Cada vez mais se nota que a principal preocupação das entidades públicas administrativas é subtrair dinheiro aos cidadãos. Isso tem-se tornado o mote, o objectivo e a prática de várias instituições.

Neste momento o que importa, além do rol de impostos possíveis, é lançar um conjunto de ardis legislativos que redundam em multas e coimas para os cidadãos e empresas. Esses ardis também aumentam o custo das penalizações pecuniárias através da invenção dos, agora em voga, custos processuais. Muitas multas ou coimas de valor baixo arriscam-se a sair caro por custas processuais na ordem de centenas de euros. Custas essas que não têm correspondência oposta, i.e. a administração pública pagar “custas de processo” por erros que cometa.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Man. United 3 - 3 FC Basel e a arrogância inglesa.

Quando saiu o sorteio da fase de grupos da liga dos campeões 2011, que colocou no mesmo grupo Man. United, Benfica, Basileia e FC Otelul, rapidamente os ingleses disseram que o Man. United tinha tido muita sorte com o sorteio, teria passagem quase garantida com grandes chances mesmo de fazer 18 pontos (ou seja, ganhar todos os seus jogos).

Depois do empate no primeiro jogo com o Benfica e agora com outro empate in extremis com o Basileia, não só já não farão 18 pontos garantidamente — mesmo que ganhem todos os restantes jogos conseguem 14 — como a passagem no grupo subitamente deixou de ser favas contadas.

Menos arrogância e mais respeito pelos adversários precisa-se para aquelas bandas.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cartão de cidadão, o que se ganhou?

O cartão de cidadão (CC) foi uma teimosia do penúltimo governo que foi “vendido” na base da simplificação que iria trazer ao cidadão.

Digo “vendido” entre aspas porque o sistema foi imposto. Teria sido vendido se ambos os sistemas — CC e anterior — tivessem podido coexistir, cabendo a cada cidadão optar pela sua via. Assim, tornando-se obrigatório, o sistema foi-nos imposto.

Alegadas vantagens do CC:

  • tem o formato e dimensões dum cartão de crédito, o que é já um standard de facto em cartões;
  • concentra 5 cartões num só: bilhete de identidade (BI), segurança social, contribuinte, saúde e eleitor;
  • é mais difícil de falsificar que o BI;
  • permite autenticação electrónica.

Desvantagens:

  • é mais caro para o contribuinte: dos 5 cartões que substitui apenas o BI era pago e custava cerca de 8 eur. O CC custa 15 eur. Adicionalmente a partir de uma certa idade o BI passava a ser válido por 10 anos, enquanto o CC tem sempre uma validade de 5 anos, independentemente da idade da pessoa;

    • feitas as contas, no sistema antigo cada pessoa precisava renovar o BI, no mínimo, 8 vezes ao longo da sua vida (contando o primeiro BI como renovação), todos os outros cartões eram gratuitos e não tinham renovação periódica obrigatória => 8 * 8 = 64 eur;

    • com o CC, que é renovado a cada 5 anos, pelo menos desde os 6 anos, são necessárias no mínimo 13 renovações: 13 * 15 = 195 eur;

    • (as contas de cima levam em consideração que a partir de uma certa idade — 60, 65? — os cartões passam a ser vitalícios, mas não consegui validar isto relativamente ao CC);

  • não se ganhou qualquer funcionalidade: a única adição foi o sistema de autenticação, mas isso já existia, e existe, por outros meios como usado nas declarações electrónicas;

  • expõe demasiada informação no mesmo cartão: frequentemente somos “obrigados” a deixar cópias do CC onde consta toda a informação referente aos cartões que substitui, excepto informação de eleitor.

Acredito que algumas pessoas gostem da conveniência de ter apenas um cartão, que outras gostem do aspecto “tecnológico” do mesmo, afinal aquele aspecto credit card é tão sexy, mas para mim o Cartão de Cidadão resume-se a um roubo tecnológico, inútil e imposto.

Como referência fica o parecer da CNPD em relação ao CC.


Um aspecto da evolução social em 30 anos.

Educação e muito mais informação foi algo que se ganhou nos últimos 20, 30 anos. A primeira via maior escolaridade e formação. A segunda por mais comunicação social em geral, mas sobretudo pela internet.

Com a internet temos muita coisa ao nosso alcance e ainda mais. A constituição e generalidade das leis que eu sabia existirem há 20 anos, mas não sabia quais eram, são fáceis agora de conhecer e pelo caminho encontram-se opiniões de outras pessoas, casos, e até acordãos judiciais.

As pessoas vão aprendendo que têm direitos e começam a reivindicá-los. Por muito ou pouco insignificantes que sejam.

É isto que se tem vindo a ganhar. Protecção, privacidade, acesso e retenção dos nossos dados, direito enquanto consumidores, perante o estado, etc. E no entanto ainda tão espezinhadas são estas coisas, apesar de acreditar que a tendência seja melhorá-las, tal como outras características menos boas da nossa sociedade.


Notas de um Porto 2 - 2 Benfica.

Porto 2 - 2 Benfica

Simulações

  • Triste o espectáculo de anti-desportivismo que os jogadores do Porto fizeram. Fucile e Guarin em particular, mas também Alvaro Pereira, Hulk e Varela, fizeram teatro em muitos lances para tentar arrancar amarelos (Guarin conseguiu-o a Javi e Luisão numa falta assinalada em que ninguém sequer lhe toca) e vermelhos aos jogadores adversários, além de livres perigosos.

Árbitro

  • Tenho alguma dificuldade em ver no árbitro sistematicamente o “lobo mau”, aquele que quer fazer uma equipa ganhar e outra perder. Pode acontecer, de certeza que já aconteceu — existem evidências factuais disso num passado recente — mas é estranho que isso aconteça numa base sistemática.

  • A certa altura do jogo, com resultado ainda a 0–0, havia 7 faltas assinaladas ao Benfica e 1 ao Porto. Ora nem o Benfica tinha cometido tantas, nem o Porto tão poucas. Nessa altura havia já algumas simulações de jogadores do Porto, umas quantas “bolas no braço” inventadas, etc a prejudicar o Benfica, e também alguns “fechar de olhos” a jogadas do Porto, como o caso em que o Hulk faz falta sobre o Emerson (puxa-lhe o braço) e acaba por dominar a bola por lá da linha de fundo, tendo a equipa de arbitragem permito continuar o lance, que acabou por ser resolvido pela defesa do Benfica.

  • Agora se o árbitro quisesse deliberadamente prejudicar alguém, não teria formas mais inteligentes de o fazer? Há tantos lances em que se podem tomar decisões que penalizam fortemente uma equipa — e houve-os neste jogo — os quais mais tarde “têm de ser entendidos” face às leis do jogo. Então para quê assinalar falta numa simulação? Ou deixar continuar uma jogada inócua que devia ser falta?

  • Incompetência. É a explicação para muitas das más arbitragens que se assistem.

Discursos encomendados

  • Já começa a ser hábito o staff do Porto ter um discurso numa primeira fase, e depois de regressaram do balneário falarem a uma só voz de algo que não tinham falado antes. Deve ser a voz do mestre. Desta vez foi a alegada agressão de Cardozo a Fucile. Antes da ida às cabines não falavam disso, à sua vinda era o discurso na boca de treinador e jogadores.

Contentes com resultado?

  • É certo que o historial de resultados no estádio do Porto não é brilhante para o Benfica — vá-se lá saber porquê, mesmo nos tempos dos super-Benficas era sempre difícil ganhar lá, e ainda há idiotas que falam em regime — mas ficar contente com um empate parece mal. O discurso até foi bom: tirar um empate no estádio do adversário não é mau. Mas o entusiasmo não escondeu que aquele empate foi tratado como vitória.

Bom demais?

  • O clube que não hasteia a bandeira do Benfica, coloca nos placares “Visitante” em vez do nome do adversário como é dos regulamentos, o clube cuja trajecto até sua casa costuma ser marcado por apedrejamentos e outro tipo de arremesso de objectos, o clube em cuja casa se inovam sempre novas formas de agredir e insultar adversários, seja com bolas de golfe, seja com gangs organizados liderados por agentes… desta vez não aconteceu nada disso.

  • Como justificações fala-se na presença de um observador da UEFA, fala-se na proximidade das eleições para a presidência da FPF e consequente luta de poder, …

  • Justificações à parte, algo que ninguém falou é do seguinte: todos esses acontecimentos típicos foram agora simplesmente “desligados”, como se de um botão se tratasse. on/off. Aquilo que sempre foi evidente, é-o agora ainda mais, todas essas acções das turbes parecem ser controladas por alguém acima.


A irracionalidade no futebol.

Por princípio, tento evitar atingir a irracionalidade que o facciosismo consegue provocar nas pessoas. É um fenómeno comum em várias “áreas” da sociedade, desde o desporto, religião, política e até ao mercado: “guerras” de marcas entre consumidores é algo tristemente comum.

No caso do futebol isso é evidente. Consultar escritos de adeptos de clubes de futebol em geral, retirando algumas dignas excepções, é mergulhar num mundo de extremismos, intolerância e delírios.

O resultado prático disto é a criação de uma atmosfera de equivalência entre todos, que é errada. Eu próprio caio nesse erro ao dizer atrás: “adeptos de clubes de futebol em geral”. Nem as massas adeptas são iguais, muitos menos os clubes, suas acções e comportamentos, são iguais. Insistir na irracionalidade só serve para branquear a corrupção, a maldade e a batota por quem a faz.


O mundo copy-paste.

Uma coisa que a internet veio reforçar foi a necessidade que temos de nos copiar. Na comunicação social já era um fenómeno notório, que se tornou mais evidente com o aumento de publicações da área: muitas notícias são cópias ou citações do material que foi publicado noutro lado.

Na internet o fenómeno massificou-se, com particular foco em blogs, fóruns web e, mais recentemente, nas redes sociais. Aí são poucos os conteúdos úteis que se criam, limitando-se a re-noticiarem as notícias do dia ou a replicarem temas de outros blogs que lhes tenham interessado.

Hoje em dia a internet, na componente de conteúdos noticiosos ou de opinião, é um grande mundo de copy-paste. Esta situação pouco valoriza o meio. Não acrescenta nada de novo ao que já se sabe e torna mais difícil pesquisar informação alternativa porque, como a mesma coisa é repetida em vários lados, as pesquisas retornam todos esses sítios como se fossem coisas diferentes.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O mau vendedor.

Apesar da ressalva feita ao bom vendedor continuo a achar que a maioria dos vendedores são maus: enganam deliberadamente para conseguir realizar vendas. Além da repulsa social por estas acções — cujas vítimas são maioritariamente pessoas com menos conhecimentos, como idosos — em termos económicos são negativas, desequilibrantes do mercado competitivo, uma vez que vendem bens medíocres por valores maiores ou iguais a bens concorrentes superiores.

Dito isto vou relatar um incidente passado comigo que demonstra a desonestidade e má fé com que esta gente se move. Há dias apareceu-me em casa uma representante da ENDESA a tentar vender-me a ideia que os serviços desta entidade seriam mais baratos.

Acontece que pouco tempo antes tinha trocado a minha tarifa para o modo bi-horário e antes de o fazer tinha conduzido uma apurada investigação: corri vários simuladores disponíveis na net, fiz contas para calcular rácios de rentabilidade a partir do qual bi-horária compensava, etc.

Fui dizendo todas estas coisas à senhora, informando adicionalmente que o meu perfil actual de consumo era de 50% em horário vazio, 50% em horário cheio. A senhora passou todo o tempo a tentar enganar-me, a tentar provar que o modo bi-horário com um perfil destes ficava mais caro até que o modo simples, usando argumentos irrelevantes (como o facto de no modo bi-horário a tarifa em cheio ser o dobro da tarifa em vazio: o que é que isto tem a ver com a comparação à tarifa em modo simples?! Até podia ser o quíntuplo), mentindo ao afirmar que os preços iriam aumentar 30% (como os rumores indicavam na altura) mas apenas para a EDP… enfim, um chorrilho de mentiras.

Impressiona-me que estas pessoas existam. Impressiona-me que estas pessoas consigam enganar alguém. Impressiona-me que estas pessoas acabem mesmo por enganar alguém.

Nota: alguns números sobre o assunto.

Segundo o preçário das tarifas de electricidade em instalações de baixa tensão, para 2,3 kVA < potências <= 20,7kVA:

  • encargo de potência (“preço do quadro”): independente de ser modo simples, bi-horária e tri-horária, igual em todos estes casos para o mesmo nível de potência;
  • EUR/kWh simples: 0,1326
  • EUR/kWh bi-horário cheio: 0,1448 ; vazio: 0,0778

Perfil de consumo 50/50, preço médio por kWh:

  • EUR/kWh simples = 0,1326
  • Mesmo que a ENDESA faça 5% de desconto à tarifa simples = 0,1326 * 0.95 = 0,12597
  • EUR/kWh bi-horário = 0,5 * 0,1448 + 0,5 * 0,0778 = 0,1113

Perfil de consumo 50/50, com consumo de 5000kWh (2500kWh em cada horário):

  • simples = 5000 * 0,1326 = 663,00 EUR
  • simples com desconto 5% = 5000 * 0,1326 * 0,95 = 629.85 EUR
  • bi-horária = 2500 * 0,1448 + 2500 * 0,0778 = 556,50 EUR

Parece-me mais do que óbvio qual fica mais barato.

Outra abordagem: a partir de que perfil de consumo é o modo bi-horário mais vantajoso? Basta resolver a seguinte inequação:

  • 0,0778x + (1-x)0,1448 < 0,1326 => x > 0,1820895522
  • isto é, a partir de 18,2% de consumo em horário vazio já é mais vantajoso o modo bi-horário que o modo simples;
  • ou dito de outro modo, o rácio hv:hc de 1:4,45 já é suficiente para ser mais vantajoso que o modo simples, sendo que quanto mais baixo a segunda parcela, ou alta a primeira, mais compensador é.

sábado, 17 de setembro de 2011

O bom vendedor.

A percepção geral sobre os vendedores é que são uns intrujões, mentirosos, enganadores com o supremo objectivo de impingir coisas às pessoas que elas não querem e/ou fazê-las pagar mais.

Infelizmente essa imagem corresponde à realidade na generalidade dos casos com que me deparei pessoalmente.

Mas também há o bom vendedor. O bom vendedor é o que percebe as necessidades ou desejos do cliente e tenta ajudá-lo a fazer a melhor compra. O melhor vendedor que conheci até hoje foi o vendedor do meu carro. Não me chateou durante o processo de compra, não se apressou a (tentar) fechar o contrato antes de eu ter tomado uma decisão, como outros tentaram e foi prestável sempre que precisei, também ao contrário de outros. Na hora da configuração final recomendou alguns extras que eu não escolheria, mas que hoje estou agradecido por o ter feito e, adicionalmente, aconselhou a não comprar outros extras pela desvantagem do seu custo-utilidade.

Resultado, é uma pessoa que eu não só recomendo, como voltarei a fazer negócio se tal for possível. Já o vendedor intrujão consegue um negócio se tanto, não o volta a repetir e fica mal afamado. São opções.


Fazer política através de notícias ou vice-versa?

Um hábito que se tem intensificado nos últimos governos — independentemente da sua composição partidária — é o surgimento regular de notícias a revelar pretensas medidas a serem tomadas num futuro próximo. Raramente algumas destas cachas jornalísticas se vêm a concretizar tal como foram noticiadas e frequentemente são desmentidas de seguida pelas autoridades respectivas.

Só nos últimos meses, sem qualquer pesquisa, vêm à cabeça: o convite de Mário Crespo para correspondente da RTP, o lançamento de portagens no IC19 e CRIL e, ainda ontem, o aumento da electricidade em 30%. Isto excluindo as notícias sobre matéria fiscal que são aventadas quase semanalmente.

Muito sinceramente ainda não consegui perceber o fenómeno: se se pretende fazer política via notícias ou se se pretende fazer notícias via política.

Política via notícias: é uma tese que encontra algum eco. Os governos ou autoridades em geral lançam uma medida drástica via comunicação social, essa medida gera alguma revolta na sociedade mas simultaneamente algum efeito de aceitação devido à sua inevitabilidade, mais tarde é lançada uma versão mais suave dessa medida. Exemplo: em vez de 30% de aumento da electricidade, esta poderá aumentar “apenas” 15%.

Isto é usar a comunicação social para medir o pulso das medidas pretendidas.

Notícias via política: nesta tese seria a comunicação social a inventar, ou a aceitar fontes sistematicamente não-credíveis como confiáveis, notícias para capitalizar edições vendidas. Seriam exercícios de especulação, fantasiosos, em que alguns até poderiam coincidir com a realidade. Um pouco à semelhante do que acontece nos jornais desportivos a propósito das contratações de jogadores.

Existem mais cenários possíveis, como é óbvio, e provavelmente até poderá ser que aconteça um pouco de todos na realidade. Mas não deixa de ser estranho esta constante noticiar de falsas medidas.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Fim da linha para Jardim?

Alberto João Jardim é uma figura ímpar. Consolidou a posição de rei virtual da Madeira à custa de uma atitude provocatória e de ódio q.b. ao continente, que lhe permitiu perpetuar uma estilo de política insustentavelmente despesista.

Com o rigor das contas a apertar começaram a surgir notícias de buracos financeiros provenientes da região. O último dá conta de mais de mil milhões de euros referentes a 2008, 2009 e 2010. Começa a ser demais, mesmo para a Madeira, mesmo para Jardim.


Fama = dinheiro?

Num passado bem recente fama era igual a dinheiro. Quem se tornasse famoso, fosse por que meio fosse, candidatava-se a uma espécie de cheque social, concretizado em anúncios, programas televisivos ou, no pior dos cenários, aparições em festas populares, bares e discotecas.

É interessante como esse fenómeno começa a desvanecer-se. É certo que ainda subsiste mas a relação já não é directa. Já não basta um fulano mediano, de capacidades medianas, se tornar uma vedeta instantânea por ter obtido uma visibilidade esporádica fruto das vicissitudes da vida.

Aos vencedores de reality shows, jovens actores de talento mediano ou autores de fenómenos virais já não está reservado o eldorado das socialites.

Nota: o célebre personagem do vídeo viral “sai da frente guedes”, que é bastante cómico de facto, quando entrevistado disse esperar que o vídeo lhe trouxesse um bom emprego. O jovem acabou por participar num anúncio comercial onde mal se percebe o que diz, sequer. Daqui a uns meses já ninguém se lembrará dele e restar-lhe-á apenas a vida que queria abandonar.


Filão de sonhos perdidos.

Sobretudo desde o aparecimento das televisões privadas que se generalizaram os formatos de revelação de talentos. E de facto estes programas vieram revelar pessoas de inegável talento — pelo menos bem acima das capacidades comuns — mas porventura não o suficiente para singrarem no mundo profissional. Imitar na perfeição uma dúzia de músicas conhecidas é diferente de conseguir compor e ter um estilo próprio. Fazer um prato surpresa de comida em 30 minutos requer as suas virtudes mas não é o mesmo que se exige a um cozinheiro profissional.

Estes concursos cumprem bem o seu papel enquanto programas de entretenimento: entretêm a audiência. Mas falham na promessa dos sonhos que iludem. Os vencedores acabam na maior parte dos casos por verem os seus sonhos diluídos numa coisa que se chama realidade.


Pobres, feios e maus.

A tirada de Cristiano Ronaldo sobre as assobiadelas que é alvo fez as delícias da imprensa e correu mundo: “Assobiam-me porque sou bonito, rico e um grande futebolista”.

Realmente quando comparados com o CR a esmagadora maioria de nós, até por força estatística, é pobre, feia e má no que faz. E isso pode bem ser motivo de inveja. O que é certo é que existe um embirração com o indivíduo quase universal que começa a roçar a patologia, independentemente da pobreza, fealdade ou incompetência de cada um.


domingo, 4 de setembro de 2011

Ricardo Carvalho: um mau dia.

Muito se tem escrito e falado sobre Ricardo Carvalho nestes dias. Todo o tipo de análises e conjecturas para aquilo que foi apenas

… um mau dia. Apenas isso. Quem é que nunca se “passou” numa ou noutra situação? Há que ultrapassar e continuar.

Move along, nothing to see here.


Limite da dívida na Constituição... para quê?

Inscrever uma limitação à dívida na Constituição parece uma boa ideia para que esse limite seja efectivo: afinal a Constituição é um documento bastante estável, é revisto apenas algumas vezes ao longo dos anos (7 em 35 anos, actualmente ) e necessita de um consenso alargado na Assembleia da República para o efeito.

Só que aquilo que parece boa ideia na teoria, não raramente, deixa de o ser na prática. Quantos artigos existem na Constituição que não passam de letra morta? O que nos garante que um futuro artigo de limitação da dívida não venha também a ser também letra morta, ultrapassado pela realidade dos factos? Alguém acredita que simples letras num papel, ainda que seja a Constituição, mudam formas de agir intergeracionais? Não me parece.

Uma limitação à dívida na Constituição será ignorada, ou o limite alterado ou arranjado um subterfúgio qualquer quando houver necessidade de aumentar a dívida para lá desse limite. Simplesmente vão tornar o processo mais ardiloso (e hipócrita) que actualmente.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Arbitragens fora de especificação.

Já anteriormente tinha feito uma comparação entre os critérios de arbitragem nacional e europeia em jogos referentes ao Benfica.

Nessa altura concluía-se que o Benfica recebia 2,9 amarelos por jogo da liga nacional versus 1,4 (menos de metade) por jogo da liga Europa. Pior, nos primeiros 5 jogos da liga nacional, jogos em que o Benfica foi extremamente prejudicado, a média de amarelos era de 5 por jogo.

A propósito dos 2 cartões vermelhos exibidos a jogadores do Porto no recente jogo da supertaça europeia muita gente se lembrou de fazer um exercício semelhante, mas relativo ao Porto e a cartões vermelhos. Eis os resultados, relativos à época 2010/2011:

  • Porto, liga nacional, 3 vermelhos em 30 jogos: 0,1 vermelhos por jogo
  • Porto, liga Europa, 4 vermelhos em 17 jogos: 0,24 vermelhos por jogo

Por curiosidade o mesmo exercício, mas referente ao Benfica:

  • Benfica, liga nacional, 9 vermelhos em 30 jogos: 0,3 vermelhos por jogo
  • Benfica, Europa (liga e campeões), 1 vermelho em 14 jogos: 0,07 vermelho por jogo

Registe-se que o Porto sofre muitos mais cartões vermelhos fora de portas que a nível interno. O jogo da supertaça foi apenas um exemplo disso. Já com o Benfica sucede precisamente o oposto.

Creio que as conclusões são óbvias.

Curiosamente, noutro lado o jornalista João Querido Manhã faz uma análise a outro tipo de indicadores estatísticos relacionados com arbitragens nacionais, que apontam para o mesmo tipo de conclusões.


sábado, 27 de agosto de 2011

As falsas notícias.

O jornalismo é uma importante actividade na sociedade. Clama-se por rigor e isenção, coisas que no mundo real são impossíveis de realizar em pleno. Se os próprios agentes de justiça cometem erros de julgamento sabendo que as suas decisões são tomadas, supostamente, quando já não existe dúvida razoável, maiores serão os erros de informação quando o critério de publicação é bem menos rigoroso.

Contudo corre-se o risco desta realidade inevitável — a par da ubíqua liberdade de expressão (que por vezes ser exclusiva a jornalistas) — servir de desculpa para publicar qualquer coisa, independentemente da sua veracidade.

Numa sociedade em que qualquer rumor se espalha como um incêndio numa floresta seca, exige-se uma grande responsabilidade a quem veicula “informações”.

Dois casos tão diferentes quanto estranhos:

  1. Mário Crespo proposto pelo ministro Miguel Relvas para correspondente da RTP em Washington: a informação apareceu inicialmente e apenas no Expresso, propagou-se por toda a parte, dando origem a inúmeros comentários e palpites que, apesar dos desmentidos categóricos do próprio Mário Crespo, deixaram a desconfiança no ar. “Não há fumo sem fogo”, “porque se falaria disto se não houvesse um fundo de verdade?”, “só desmente para se proteger e aos governantes”, …

  2. 28 de Novembro de 2010, o site maisfutebol inventa uma ameaça de um segurança do Benfica à integridade física de um repórter da TVI, após um “episódio” entre este e Jorge Jesus durante uma flash interview (celebrizado pela expressão “então tchau” com que Jorge Jesus abandonou a entrevista). Nenhum outro órgão de comunicação social — incluindo os presentes no estádio — confirmou a “notícia”, a TVI não confirmou, o repórter não confirmou nem fez queixa, o Benfica desmentiu a situação, nem a PSP, que alegadamente teria feito a protecção do repórter, confirmou alguma coisa. No entanto esta invenção propagou-se imediatamente por todo o país, tendo sido a estrela noticiosa durante os dias seguintes, pejorativamente para o Benfica.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Liga dos Campeões e os potes.

Na quinta, 25 de Agosto de 2011, fez-se o sorteio para os grupos da Liga dos Campeões 2010/2011.

As equipas apuradas para a fase de grupos são agrupadas previamente em potes, dos quais se sorteiam grupos com uma equipa de cada pote. Assim cada grupo terá o perfil pote 1 - pote 2 - pote 3 - pote 4.

Cada pote deveria representar equipas com nível competitivo aproximado, criando, neste aspecto, grupos homogéneos entre si e heterogéneos internamente. Deste modo, evitam-se os confrontos entre as equipas mais fortes e, em princípio, adiam-se os encontros entre favoritos para as etapas finais. O facto de, nos oitavos finais, os vencedores dos grupos defrontarem os segundos classificados (entre grupos) também potencia este efeito.

É um princípio geralmente aceite, embora o seu móbil seja predominantemente financeiro e não tanto desportivo. Desportivamente seria um sorteio puro, sem restrições.

Posto isto, a questão é como são agrupados os potes. Os clubes têm um ranking europeu determinado pela soma da sua performance desportiva nos últimos 5 anos nas competições europeias. Os 32 apurados para a fase de grupos são ordenados por esse ranking, constituindo os 8 primeiros o pote 1, os 8 seguintes (9º ao 16º) o pote 2, etc.

Agora vejamos os potes deste ano:

  • pote 1: Manchester United, Barcelona, Chelsea, Arsenal, Bayern Munique, Real Madrid, Porto, Inter;
  • pote 2: Milan, Lyon, Shakhtar, Valência, Benfica, Villarreal, CSKA Moscovo, Marselha;
  • pote 3: Zenit, Ajax, Bayer Leverkusen, Olympiakos, Manchester City, Lille, Basileia, BATE Borisov;
  • pote 4: Borussia Dortmund, Nápoles, Dinamo Zagreb, APOEL Nicosia, Trabzonspor, Genk, Otelul Galati, Plzen.

Se em grande parte o modelo até funciona, há casos aberrantes. Manchester City é demasiado forte no pote 3 e Dortmund no 4, já Basileia é demasiado fraco para o 2, por aí fora. Fora desta lista, vemos um Schalke 04 atrás dum Braga…

Este modelo tem dado origem a maus agrupamentos nos últimos anos: em vez de serem produzidos grupos homogéneos entre si, resultam grupos demasiado fortes (os chamados “grupos de morte”) a outros totalmente desequilibrados, com uma equipa a fazer quase o pleno de vitórias.

Era interessante a UEFA mudar o esquema de constituição de grupos… duas ideias:

  1. usar a soma dos últimos 3 anos, em vez dos últimos 5 como actualmente;
  2. usar a soma “olímpica” dos últimos 5: desses anos remove-se o melhor e pior resultado, e faz-se a soma dos 3 restantes.

domingo, 21 de agosto de 2011

A convulsão de Londres, o rescaldo.

Contexto: dia 4 de Agosto de 2011 uma pessoa é morta numa acção policial em Tottenham, na grande Londres. No dia 6 uma manifestação pacífica de protesto contra essa acção funciona como rastilho para uma sucessão de violência e vandalismo, com consequência de destruição e sobretudo pilhagens de lojas.

No dia 11, depois de grandes reforços das forças policiais e ameaças de aumento do nível da resposta das autoridades com uso de canhões e balas de borracha, a situação começou a acalmar.

Independentemente das análises e opiniões que se produziram sobre isso, há duas coisas que registei:

  • os distúrbios, violentos e em larga escala, foram controladas em cerca de 5 dias, apesar das críticas à passividade da polícia;
  • a quantidade de detenções e condenações feitas e que continuam a decorrer: só na grande Londres, a 17, tinham sido presentes a tribunal 1300 pessoas segundo as últimas notícias.

Isto representa as autoridades e o sistema de justiça a funcionar e de forma célere. Compare-se com o nosso caso Belavista, numa escala substancialmente menor, que demorou cerca de 2 semanas a estabilizar e teve zero detidos, quanto mais acusações ou condenações.


sábado, 20 de agosto de 2011

O que motiva Sobral?

O maisfutebol deverá ser, na minha modesta opinião, um dos mais sui generis projectos de cobertura desportiva, pela negativa. Basta seguir o link anterior para ter uma ideia das minhas razões.

Uma publicação online que mais se preocupa em cobrir insólitos ridículos, expor esposas e namoradas dos atletas profissionais e avançar com títulos bombásticos para notícias banais, não abona muito a favor da relação entre os media e o desporto.

A cereja em cima do bolo são as opiniões do Luís Sobral. Mas isto sou eu a dizer. É a minha opinião. Já as do Sobral são verdades absolutas. Ele critica, julga e condena, tudo à velocidade da internet.

O senhor acha mal Carlos Martins ter ido para o Granada (mas não se preocupou com a ida da estrela em ascensão Ruben Micael para o Saragoça, por exemplo), acha mal que o Benfica tenha empatado na primeira jornada, mas gosta de… Laionel… quem? Não interessa, é o tipo que marcou o golo do empate ao Benfica!

Achou mal não ter percebido a transferência do Roberto para o Saragoça (aparentemente percebeu a do Ruben Micael, talvez pudesse explicar um dia destes, quando não houver novas namoradas de jogadores para publicar em bikini) mas depois de perceber continuou a achar mal. Antes já tinha achado mal o facto de Roberto estar a ser “mal-gerido” (hmm, será que se nota aqui um padrão?).

Achou mal durante o processo de transferência de Fábio Coentrão e depois da transferência ter sido feita achou mal que o melhor jogador do Benfica tivesse sido vendido (nenhuma palavra sobre o processo de transferência de Falcao?).

Etc etc etc etc … de facto este senhor acha tanta coisa mal sobre o Benfica e tudo o que lhe diz respeito, que a cada 3 vezes que acha qualquer coisa, 1 é para achar mal do Benfica. É uma paranóia que podia tentar curar em locais mais apropriados.

Usando uma expressão do próprio: “caro Sobral, continue a marrar”.


Curtas do futebol, da jornada europeia às transferências.

  • Jornada europeia. Com a maioria dos clubes portugueses já em prova houve resultados tão idênticos quanto diferentes:
    • Benfica empata a 2 com o Twente, fora, numa boa exibição (que podia ser melhor) e em que o golo do empate do Twente foi precedido de falta;
    • Sporting empata a 0 fora com um modesto clube dinamarquês;
    • Braga empata a 0 em casa, com um clube suíço;
    • Guimarães perde fora, 2–0, com o Atlético de Madrid;
    • Nacional empata a 0 em casa, com sorte, com o inglês Birmingham;
  • posto isto… o Benfica, apesar de ter o adversário mais credenciado, é o que parece estar melhor posicionado para seguir em frente e também o melhor preparado;

  • Sporting desiludiu mas mantém hipóteses plausíveis de avançar. Parece estar a “Domingues”izar-se…

  • Braga fraco, e vai ter que provar fora, algo a que não estão habituados;

  • Nacional e Guimarães com poucas hipóteses.

  • Saídas do Porto. Também se noticiou as vendas de Falcao e Ruben Micael do Porto para o Atlético de Madrid, por um total de 45 milhões, 40 correspondentes a Falcao e 5 do Ruben. Fica um “bocado” abaixo dos 75M das respectivas cláusulas de rescisão mas, hey, afinal este é o clube dos super negócios (chico-)espertos. Ou serão também milhões da treta?

  • Ruben, o prodígio que demorou um mês a lembrar-se em que olho Jorge Jesus lhe enfiou o dedo, é despachado ano e meio após a sua venda do Nacional para o Porto. 3M por 60% do passe. Agora é vendido por 5M… o que representa o valor do passe dessa altura. Ou o Porto só está a vender os 60% que detém? Era uma boa questão a ser esclarecida pela CMVM, mas aparentemente a CMVM só tem dúvidas com os negócios do Benfica. Dos outros conhece tudo, apesar dos telegráficos comunicados.

  • Este mesmo prodígio, que num ano e meio de redondos sucessos ao serviço do seu clube aparentemente em nada valorizou o passe, nem chegou a aquecer o lugar no Atlético e segue directo, por empréstimo, para o Saragoça, onde vai fazer companhia ao guarda-redes Roberto, ex-Benfica. Mas os negócios dos outros é que são estranhos, claro.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Governo: o bom e o mau.

Com cerca de 2 meses de governo, há boas e más notícias.

As boas:

  • os primeiros esboços de desboysificação: fica a ideia de estar a existir algum reaproveitamento de quadros do governo anterior e que as nomeações estão a ser em menor número e, sobretudo, mais transparentes, com a criação do prometido site das nomeações e respectivos salários;

  • menos conversa, mais acção: ao contrário do anterior governo que abusava da propaganda até ao limite da paciência, este governo parece “falar menos” e “fazer mais”. Pelo menos não têm chovido anúncios de projectos sonhadores como se fossem realidade a cada presença do 1º ministro na A.R.;

  • algum esforço de corte / poupança: entre medidas residuais e patéticas (dispensa de usar gravata para poupar em ar condicionado no ministério do ambiente) a medidas mais significativas e concretas (fusão do instituto do desporto com o da juventude, fim da Parque-Expo, redução de custos da administração da CGD), são sinais positivos na redução da despesa do estado.

As más:

  • combater o deficit da mesma forma que fazia o anterior governo: aumentando impostos (imposto extraordinário sobre o rendimento, aumento do IVA da electricidade e gás);

  • pior… durante o anterior governo, o PSD e o CDS diziam que não se podia aumentar mais os impostos e que a consolidação teria que vir do corte de despesa do estado, dando a entender terem várias ideias sobre como o fazer. Agora, no governo, fazem o que diziam não se dever fazer, e não fazem o que era suposto saberem fazer;

  • ausência de corte de despesa: enquanto oposição anunciavam-na como o caminho a seguir. Uma vez no governo têm-se esquecido disso. Os primeiros anúncios de índole financeira do governo foram decepcionantes aumentos de impostos. A redução da despesa foi adiada para Agosto, altura em que se voltou a apresentar mais penalização de impostos. Agora fala-se em adiar dois meses até ser anunciado o plano de redução de despesa;

  • falhou em algumas ilusões que quis vender:
    • reduzir a dimensão do governo no número desejado: houve redução no total de ministros e secretários de estado, mas pouco significativa;
    • suspensão do projecto do TGV: bastou uma ida a Espanha para a suspensão… ser suspensa.

Creio que a chave do sucesso ou insucesso deste governo será a apresentação do tão esperado plano de poupança. Mais para o 4º trimestre se verá.


Curtas do futebol, da selecção à 1a jornada.

  • Selecção. Nestes dias houve um jogo particular com a fraca selecção do Luxemburgo. A grande novidade acabou por ser a convocatória de Quim e Nuno Gomes, jogadores que nos seus últimos tempos de Benfica não foram convocados, deixando no ar a sensação que teriam sido convocados apenas por terem saído do Benfica. Isso não passou desapercebido e as críticas foram várias, exceptuando os idiotas do costume.

  • O facto de João Tomás — um pragmático e sobrevivente veterano avançado nacional, melhor marcador português da época passada e segundo melhor geral — continuar a ficar de fora, fica sem explicar. Estranhamente, já que sendo um ex-jogador do Benfica reúne todas as condições para ser seleccionável.

  • Relativamente desapercebido, contudo, foi a novidade do jovem Castro, médio portista, que poucas semanas depois da sua primeira convocatória à selecção foi emprestado a um clube espanhol (os idiotas do costume não acharam nada de estranho, apesar de terem achado mal o empréstimo do benfiquista Carlos Martins a outro clube espanhol).

  • O que não estranhou, já que meses antes um jogador pouco utilizado no Porto, Ruben Micael, estreou-se também na selecção, apenas para culminar numa estranha venda seguida de imediato empréstimo a outro clube espanhol! Provavelmente este estranho negócio ditará o adeus à sua curta passagem pela selecção…

  • Voltámos aos tempos da selecção como entreposto de jogadores??

  • Arranque da liga. Por cá tudo normal, a maior parte dos jogos a terminarem empatados na primeira jornada, com apenas 3 excepções.

  • Uma delas do inevitável Porto, que quase sempre começa bem, começando mal. Ou vice-versa. Como? Começam mal a jogar mau futebol. Começam bem a ganhar. Desta vez foi Benquerença, esse portento da arbitragem. Isto de aparecer um penalti milagroso (leia-se: inventado) sempre que dá jeito… dá jeito. No ano passado a vítima foi a Naval, desta feita o Guimarães, e nem o factor casa lhes valeu.

  • E por falar em penaltis inventados… falemos do incrível Hulk. Este prezado “bloguista” analisou as estatísticas e revela que Hulk, em 124 jogos, tem 56 golos marcados, dos quais mais de 23% foram obtidos por penalti. Ou seja, aproximadamente em cada 4 golos que marca, 1 é de penalti. É realmente incrível.


Última hora: Porto rouba senhora das limpezas ao Benfica!

Foram anunciadas duas contratações do Porto. Um desses (quem?) veio afirmar que também tinha sido abordado pelo Benfica levando imediatamente ao delírio aquele grupo de escribas acéfalos que vibram com os “roubos” do Porto ao Benfica. Aliás, agora já usam um eufemismo: em vez da expressão “roubo/roubado” que antes empregavam, falam na “luta que o Porto ganhou ao Benfica pelo jogador x” ou em “vitórias”. Devem ter concluído que “roubo” no contexto do porto tornava a notícia demasiado vaga.

Esta historieta faz lembrar aqueles miúdos que após dizerem uma piada, de graça moderada, passam a vida a repita-la na esperança de continuarem a ter piada. Não têm.

O Porto e os seus escribas amestrados devem perceber que esta piada já está esgotada. Já fazem figura de parvos ao pretenderem que todas as contratações que fazem são “roubadas” ao Benfica. E nem sequer é digno forçar os novos jogadores a chafurdar nessa lama. Já bastou o outro que só depois de ser contratado pelo Porto é que se lembrou em que olho o Jorge Jesus lhe tinha enfiado o dedo.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Benfica e o Granada

Interessante o que se passa entre o Benfica e o Granada, clube que subiu este ano à primeira divisão espanhola. São já 3 os jogadores, ou ex-jogadores, do Benfica cedidos ao Granada — Júlio César, Carlos Martins e Jorge Ribeiro — e há notícias que juntam a esta lista mais outros dois, Franco Jara e Yebda.

Estará o Benfica a preparar um clube satélite em Espanha? Ou serão outros interesses financeiros em jogo? A ideia de manter uma relação desportiva de rotatividade de jogadores numa liga como a Espanhola é bastante interessante.

Resultados da liga espanhola do ano passado, 2010/11. Há um grande grupo a lutar pela manutenção: 11 equipas, do 8º ao 18º lugar, com apenas 6 pontos de diferença entre si. Como descem os 3 últimos, existem algumas hipóteses de manutenção para um recém-promovido, se conseguir entrar neste “pelotão”.

1Barcelona96
2Real Madrid92
3Valencia71
4Villarreal62
5Sevilla58
6Athletic58
7At. Madrid58
8Espanyol49
9Osasuna47
10Sporting Gijón47
11Málaga46
12Racing Santander46
13Zaragoza45
14Levante45
15Real Sociedad45
16Getafe44
17Mallorca44
18Deportivo43
19Hércules35
20Almería30

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O vereador e as portagens no IC19 e IC2

Há poucos dias o vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, Nunes da Silva, revelou o interesse da câmara em cobrar portagens nas vias IC19 e IC2, para entrar em Lisboa. A ideia, segundo ele, era “que todas as portagens na primeira coroa de acesso à cidade de Lisboa tivessem o mesmo valor e tivessem o valor mais alto que está hoje a ser praticado [ponte Vasco da Gama, 2,40 euros], em que o diferencial entre o valor que está contratualizado com as concessionárias e esse valor mais alto ia para um fundo de apoio aos transportes colectivos [de Lisboa]”.

Isto é tão surreal e questionável que se estranha vir da figura de um vereador municipal. Com o conforto de quem não seria sequer afectado por tal medida, eis algumas considerações:

  1. o modelo de portagens existe para compensar os concessionários dos custos que tiveram na construção e/ou com a conservação e manutenção das vias concessionadas;

  2. o vereador pretende que parte do valor das portagens sirva para financiar a rede de transportes colectivos, o que viola grosseiramente o princípio utilizador-pagador tão invocado para cobrar portagens: os utilizadores das vias rodoviárias estariam a pagar parte dos custos dos transportes colectivos sem os usar, assim como o recíproco;

  3. portanto, nuns casos alega-se o princípio utilizador-pagador para justificar portagens, por outro aplica-se o princípio solidário e redistributivo para… justificar portagens! Interessante…

  4. o princípio solidário e redistributivo faz-se através de impostos, não através de portagens ou taxas;

  5. o diferencial entre o valor mais alto e o valor contratualizado com as concessionárias seria efectivamente uma taxa de entrada em Lisboa. Não sendo especialista de direito, acho estranho a possibilidade de se cobrar uma taxa de acesso a toda uma região pública, sendo a sua única razão estar-se a fazê-lo por uma via rodoviária de grande/médio fluxo;

  6. as taxas são cobradas para um fim específico, neste caso estar-se-ia a taxar a entrada em Lisboa. Só que esta taxa variaria consoante o tal diferencial. Assim, para a mesma finalidade — entrar em Lisboa — haveria taxas diferentes a aplicar às pessoas conforme a via que usassem, o que não parece muito legal. No limite haveria quem não pagasse de todo para usufruir do mesmo “benefício”.

A isto se juntam outras “estranhezas”, como:

  1. dias antes, perante a hipótese de introdução de portagens no IC19 e CRIL pelas Estradas de Portugal, o mesmo vereador se ter manifestado contra, usando diversa argumentação;

  2. as portagens das vias referidas não serem da competência ou responsabilidade da Câmara de Lisboa;

  3. estar a haver uma enorme promiscuidade entre custos e receitas de uso de vias rodoviárias, com custos de transportes públicos, com acesso a cidades;

Está visto que nestes dias a crise vai servir de desculpa para muitas aberrações.


Eleições legislativas 2011, os resultados.

Embora tardiamente, eis a análise às eleições legislativas 2011.

  1. sondagens, continuam a ser uma ciência demasiado inexacta e estranha. Este sector deveria mais regulado (ver tabela abaixo);

  2. resultados… o que mudou das eleições de 2009 para estas? Na vertente dos candidatos, apenas o líder do PSD, todos os restantes eram os mesmos. Na vertente dos resultados, basicamente, o PS “troca” de resultados com o PSD e há um tombo relativo do BE. Estes eram resultados expectáveis em 2009 face ao desgaste do PS existente já nessa altura, não fosse a desgraça MFL;

  3. episódio, na ante-véspera das eleições, último dia de campanha, estava um apoiante do PS a distribuir folhetos partidários. A reacção da generalidade das pessoas era não aceitar ostensivamente, havendo umas quantas que ficavam a barafustar. Foi um indicador prático do que viria a acontecer dois dias depois.

Última sondagem do expresso vs realidade:

Sondagem expressoRealidadeDiferencial
35,538,63–3,13 psd
3128,05+2,95 ps
1311,74+1,26 cds
8,27,94+0,26 pcp
6,35,19+1,11 be

O PS continua a valer mais nas sondagens que na realidade, e ficaram por explicar aqueles persistentes “empates técnicos” ps-psd em que nem os clones do Sócrates acreditavam.


domingo, 5 de junho de 2011

Eleições legislativas 2011, a campanha.

Em Setembro de 2009 abria este blog, anónimo e generalista, sobre o qual já vinha a considerar há algum tempo (um dia farei um tópico sobre o assunto). E o factor decisivo para isso foram as eleições legislativas que se avizinhavam. De facto o primeiro artigo foi uma explicação do método de Hondt e a maior parte dos artigos desse mês reflectiam as eleições: sobre os debates, sobre a campanha, sobre os resultados, etc.

Talvez um dos mais interessantes seja o “Governo até quando”, onde questionava quanto tempo iria durar o, então, novo governo, dado o pouco suporte com que tinha ficado na Assembleia da República, a perda definitiva do chamado “estado de graça” (apesar da vitória) e os problemas que continuavam a existir apesar da propaganda em contrário.

Dito e feito. Um ano e meio depois cai o governo. Amanhã ver-se-ão quais os resultados, embora uma derrota significativa do PS seja mais que previsível, não sendo precisas sondagens da treta para ter essa percepção.

Porquê? Porque o país chegou a um estado financeiro completamente lastimoso em que o Estado não só não deu o exemplo, como se mostrou o pior comportado. Gastou-se em demasia, para poucos resultados visíveis. Agora é altura de pagar uma dívida de tal ordem que é praticamente inviável ser paga: o esforço para o fazer vai exigir recursos ao país que irão causar recessão, diminuindo a capacidade de gerar recursos para manter o esforço da dívida. Esta é a realidade que ninguém assumiu.

Voltando à “campanha”, duas partes:

  • os debates (tecnicamente em período anterior à campanha): prova-se que continuam a servir mais para alimentar o círculo fechado da política e comunicação social que outra coisa. Promovem o soundbyte e despoletam inúmeras análises sem qualquer interesse prático.
  • campanha: aqui houve grandes diferenças face a 2009. Enquanto nessa altura Sócrates era o lobo no meio de uns cordeirinhos a fazer meh meh, desta vez, sobretudo o PSD, armou a barraca e partiu à luta. Nesse aspecto estiveram bem, evitaram perder pela estratégia FUD do PS ou pelas contra-razões de voto (da propaganda já não havia perigo, dado o ponto a que as coisas chegaram entretanto).

Quanto às eleições, amanhã logo se vê.


Portugal 1-0 Noruega

Um jogo fraco em que valeu a vitória. O que me fica na memória acaba por ser o enorme sono sentido durante o jogo, por um lado, e por outro os ridículos comentários durante a transmissão. Sobre isto há 3 lances que merecem destaque:

  • Bruno Alves faz falta — intencional ou não — sobre um jogador da Noruega na grande área de Portugal, logo era penalti. Houve aqui uma ajudinha do árbitro que não esteve para se chatear muito (para ambos os lados). As imagens são óbvias mas o que dizem os comentadores? Que não é, porque não foi intencional.
  • Outro lance, desta vez na grande área oposta, um jogador norueguês corta uma jogada de Nani. Vendo a repetição vê-se que o jogador apenas corta a bola. Os comentadores ficaram todos chocados com o penalti que ficou por marcar.
  • Mais tarde Fábio Coentrão corta uma jogada perigosa de contra-ataque norueguês. Não foi marcada qualquer falta mas os comentadores acham que foi. “Teria sida uma falta cirúrgica”, dizem eles. Revendo as imagens, nota-se que foi o norueguês a fazer falta após Coentrão ganhar posição (embora o árbitro não tenha assinalado qualquer infracção).

Que cambada.


segunda-feira, 23 de maio de 2011

A evolução da comunicação via internet IV

1, resenha histórica; 2, perspectiva pessoal, até IM; 3, perspectiva pessoal, dos fóruns às redes; 4, conclusão.

  1. as pessoas gostam, precisam e sentem necessidade de comunicar, e para o fazer arranjam vários meios;

  2. muitas das novas formas de comunicação são simplesmente revisões tecnológicas de conceitos já existentes, tornando estes últimos obsoletos;

  3. o mail continua a ser o fiel companheiro: pode ter perdido algumas das funções que já teve, mas continua a ser usado como contacto pessoal primordial;

  4. liberdade, direitos, facilidade de uso e acesso são factores essenciais para o sucesso de um modelo. Os fóruns do tipo slashdot morreram pela falta de liberdade, a usenet pela falta de acesso, as páginas pessoais pela “dificuldade” de edição e os fóruns web poderão vir a entrar em declínio pela falta de liberdade e direitos.


A evolução da comunicação via internet III

1, resenha histórica; 2, perspectiva pessoal, até IM; 3, perspectiva pessoal, dos fóruns às redes; 4, conclusão.

Os websites de notícias, com o modelo popularizado pelo slashdot, foram morrendo aos poucos. Após uma primeira vaga de clones do slashdot, como o gildot por cá, o seu modelo começava a revelar-se insuficiente: “Tenho que submeter uma história para aprovação? Não posso apagar os meus artigos? Corrigi-los? Porque tenho uma janela ridiculamente minúscula de edição?”. As alternativas que surgiram, primeiro com os blogs, e pouco tempo depois com os clones web dos antigos fóruns BBS e da Usenet, foram a machadada final na esmagadora maioria destes sistemas. Ironicamente o original slashdot continua bem vivo e de boa saúde.

Os blogs representam a vitória da preguiça e do pragmatismo. Apenas permitem um pequeno subconjunto do que se podia fazer com uma página pessoal, mas com uma estrutura pré-estabelecida, consistente e trabalho mínimo de edição — basta escrever! — permite realizá-lo facilmente e com resultados agradáveis.

Há vários factores de risco para os blogs contudo, a começar pela ausência de comunidade. Muitos blogs morrem da mesma maneira como começaram: solitários. Nos dias que correm não faço ideia como tem sido a evolução dos conteúdos produzidos em blogs, nem tão pouco a sua comparação com os produzidos noutros sistemas.

Fóruns web… os fóruns sempre foram atractivos. Basta ver na resenha história que foram dos primeiros modelos a ser criados, ainda antes da internet oficial. Juntam a fome à vontade de comer, que neste caso são a comunidade com a vontade de “falar”. Os fóruns acarretam os seus problemas, relacionados sobretudo com questões de comunidade: comportamentos, liberdade e direitos. Tenho dúvidas se não se trata de um modelo em risco de se tornar obsoleto.

Não sou grande adepto das redes sociais, mas admito que exploraram um modelo que faltava: agregaram os principais modelos de comunicação já existentes e lançaram-nos em cima de uma rede de redes pessoais. Com isto conseguiram o melhor dos vários mundos: comunicação instantânea, aliada à facilidade de publicação de media, com criação de tópicos na hora, que se transformam rapidamente em mini-fóruns, etc, tudo em “liberdade” plena. Em teoria é o modelo de comunicação perfeito. Tem o risco de exposição excessiva e consequente problema de privacidade, bem como alguma inversão de papéis quando a rede social passa a funcionar como motor da vida social.