domingo, 7 de outubro de 2012

Diferenças...

Comparar um At. Madrid - Malaga com um Porto - Sporting é como comparar uma lotaria à aproximação… respectivamente.


Do Céu ao Inferno num ápice.

Margarida Marante foi notícia, por uma última vez, há dois dias: faleceu. Tinha deixado de o ser há dez anos, quando iniciou uma descida ao Inferno, em vida. Antes disso tinha cavalgado o sucesso e notoriedade como jornalista de élite, daqueles que definem o que fazem e com quem. Nunca apreciei o estilo, demasiado arrogante, mais interessada em humilhar os seus convidados, que em informar. E no entanto, tudo perdeu.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Estou farto do Sobral.

Algum mérito o senhor deverá ter, para estar à frente do maisfutebol. Mas que não percebe nada de futebol, não percebe. Mais uma vez, agora durante o Euro2012, volta a demonstrar que, ou tem muito azar, ou não percebe nada do que fala. E fala muito! Eis algumas pérolas:

  • “A Rússia e a Dinamarca foram as duas selecções que melhor entraram no Euro-2012. Por caminhos bem diferentes. (…) Mas o primeiro milho já ninguém lhe tira.”
  • “Rep. Checa, a primeira a cair.”

Além da constatação do óbvio a realidade é esta: Rússia e Dinamarca foram afastadas da competição enquanto a República Checa prosseguiu.

Mas o mais irritante é a postura. Por um lado, parece que o mundo desportivo lhe deve alguma coisa. Permanentemente. Por outro sente-se como um majestoso iluminado, que da sua excelsa visão identifica os terráqueos errantes.

Infelizmente o mundo está cheio de gente desta: aqueles que resolvem tudo… no papel.


Do fanatismo à obsessão.

O que leva a que um “alto” representante do estado continue a manter crónicas na sua condição de culto fanático-faccioso adepto?

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Será uma questão de dinheiro? Uma obsessão por mediatismo?

Olhamos hoje para as páginas de um jornal, assistimos a um programa televisivo ou simplesmente ligamos o rádio e o panorama repete-se: uma quantidade de figuras, colunáveis por se terem tornado colunáveis (assim mesmo, recursivo), repetindo ad nauseam os seus dislates. Sendo um direito que lhes assiste bem como uma questão “editorial” de quem os contrata, os representantes do estado dever-se-iam abster dessas actividades, precisamente devido à representatividade que carregam.


Calão do ...

Em todas as línguas existe um conjunto de palavras classificadas como calão. São os chamados palavrões, palavras feias, asneiras, que ficam mal serem ditas e normalmente são consideradas ofensivas.

Contudo morfologicamente não exibem qualquer diferença face às outras e encontram mesmo equivalência semântica noutras.

Isto significa que ao longo da história se criou propositadamente um conjunto de palavras com o intuito de ofender e/ou para serem proibidas.

E nisto temos representado um dos grandes paradoxos da nossa sociedade: uma mão tira aquilo que a outra deu.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Propaganda portista.

Mais do que a violência dos adeptos no final do jogo Porto-Benfica, que decidia o título de basquetebol, ou do seu apoio tácito por parte do Porto e instituições relacionadas, o mais chocante para mim é aquilo que ninguém fala: a máquina de propaganda ao serviço do FCP.

A estratégia é sempre a mesma:

  • foram provocados primeiro;
  • faz parte de uma estratégia montada pelo adversário;
  • no fundo eles são as vítimas.

Como pode tão óbvia e patética estratégia funcionar? Propaganda!

  • Começam por lançar uma série de comunicados, a defender as teses acima (provocação, etc). No caso do jogo de basquetebol, poucas horas após o seu término, já estavam os comunicados no ar.

  • Órgãos de comunicação social “amigos” encarregam-se de espalhar a mensagem, através de notícias parciais. São sempre os mesmos: Jornal de Notícias, O Jogo, agência Lusa, e alguns amigos individuais espalhados por outros meios.

  • Instituições “amigas” tentam diluir as culpas com outras partes ou até branqueá-las. Neste caso veja-se como a PSP do Porto se apressou a anunciar um inquérito em relação aos confrontos entre adeptos do Porto e do Benfica… num jogo onde não estavam presentes adeptos do Benfica. Também vem à memória o célebre episódio dum comissário da PSP do Porto que garantia a atónitos jornalistas que o autocarro do Benfica não tinha sido apedrejado, ao contrário do que eles próprios tinham testemunhado momentos antes.

O resultado prático é o branqueamento destas acções. Compare-se o apagão da Luz com estas agressões. O primeiro caso andou meses na comunicação social, foi alvo de todo o tipo de análises e imensos artigos de opinião. “A máscara caiu” (ao Benfica), diziam eles. Agora, perante o caos e a barbárie, o tema durou uns dois, três dias.


domingo, 20 de maio de 2012

Caminhada ao topo da arbitragem.

A escolha de Pedro Proença para árbitro da final da Liga dos Campeões vem confirmar duas coisas:

  1. A nível externo, que a qualidade no domínio da arbitragem também não abunda noutros países. Nem é preciso estar-se especialmente atento para descortinar algumas tristes arbitragens quer na Liga Europa, quer na Liga dos Campeões. Este ano, mais uma vez, isso voltou a verificar-se envolvendo equipas portuguesas… com prejuízo destas.

  2. A nível interno, que o sistema funciona. O mesmo sistema que atirou Olegário Benquerença em 2010 para as lides internacionais (um jogo das meias finais da LC e presença no Mundial 2010) atira agora, 2 anos depois, Pedro Proença para lides equivalentes (final da LC, presença no Europeu 2012). Nem a UEFA nem a FIFA monitorizam o trabalho doméstico dos árbitros. Essas organizações confiam nas suas associadas nacionais e escolhem o topo que estas lhes servem. E para se chegar ao topo em Portugal já se sabe qual o caminho a seguir. Benquerença seguiu-o, Proença também.

A grande questão é saber se Proença conseguirá manter o estatuto, ou se fará como Benquerença, mostrando rapidamente que se tratou de um erro de casting.


Chelsea, vencedor da Liga dos Campeões.

A vitória do Chelsea na Liga dos Campeões enceta 2 grandes lições:

  • O futebol precisa de ser ajustado aos tempos modernos: não é concebível ver uma equipa sofrível obter o título supremo de clubes à custa de um paupérrimo futebol ultra defensivo. São precisas regras que imponham mais dinâmica ao futebol, tal como existem noutras modalidades (limites de tempos de ataque/defesa, durante o movimento atacante não permitir recuar mais que ‘x’, … ).

  • As vedetas fazem falta no campo, não como treinadores: em 2008 Chelsea foi finalista vencido com um Avram Grant, treinador interino que sucedia a Mourinho, o special one. Agora em 2012 é vencedor com Di Matteo, treinador interino que sucedeu a Villas Boas, o suposto special two. Os underdogs, especialmente Di Matteo, fizeram mais que os (caros) mestres que substituíram.


E para quando o fim da GNR?

A eterna manutenção da GNR só se entende por temor aos militares e falta de coragem política. É uma instituição totalmente anacrónica sem enquadramento na sociedade actual. A sua existência gera duplicação de estruturas com a PSP.

Adicionalmente a relação que têm com a população civil – talvez devido ao seu carácter militar – pauta-se frequentemente por atitudes de altivez e autoritarismo.

Numa altura de crise, em que tudo se corta sem qualquer lógica, talvez fizesse algum sentido cortar com racionalidade e acabar de vez com esta obsolescência. Poupavam-se custos e devolvia-se alguma sanidade à segurança nacional.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Chicotadas psicológicas, funcionam?

O cenário é comum: uma equipa tem maus resultados, começa a afastar-se perigosamente dos seus objectivos, e rapidamente o treinador é despedido. A isto se chama uma “chicotada psicológica” na gíria do futebol.

As críticas a isto são sempre as mesmas: o treinador é apenas o elo mais fraco, a culpa principal dos maus resultados nem é dele, é um problema de “estrutura” (seja lá isso o que for) e o novo treinador não vem resolver nada. Mas será mesmo assim?

Sem dúvida que já houve muitas chicotadas psicológicas que encaixam no parágrafo anterior, mas tem havido muitos casos opostos, em que o novo treinador transformou a equipa para melhor. Com os mesmos jogadores, direcção e “estrutura”. Este ano foi fértil nestes casos:

  • Sá Pinto (vs Domingos) no Sporting;
  • Sérgio Conceição (vs Daúto Faquirá) no Olhanense;
  • José Mota (vs Bruno Ribeiro) no Setúbal;
  • Henrique Calisto (vs Luís Miguel) no Paços de Ferreira…

Mas talvez o maior exemplo venha de fora, envolvendo um treinador português. Villas-Boas deixou Chelsea em 5º no campeonato doméstico, em desvantagem de 2 golos nos oitavos da Liga dos Campeões, obrigado a um jogo extra de desempate nos oitavos da taça de Inglaterra contra uma equipa da segunda divisão. Com Di Matteo, que o substituiu, estão na final da taça de Inglaterra e na final da Liga dos Campeões, mesmo contra todas as expectativas.


O Sporting na Liga Europa...

… foi bem eliminado. A progessão do Sporting na competição terá surpreendido até o mais fanático dos adeptos, mas o fim da linha adivinhava-se a qualquer altura e o Athletic Bilbao foi simplesmente melhor. No jogo de ontem, por exemplo, o Sporting raramente passou do seu meio campo na 2ª parte, contra um Athletic pressionante a criar umas quantas oportunidades de golo – até marcar mesmo. Só não percebi a “histeria” criada em torno disto.


As "Sobral"ices.

Por uma qualquer razão alguns escribas em meios de comunicação social, não necessariamente jornalistas, sentem necessidade de classificar o mundo que os rodeia. Criam, nos meios que controlam, secções de altos e baixos, ou coisa que o valha. Daí até se perderem em elogios desmedidos ou críticas infundadas vai um passo. É que nem lhes assiste qualquer moral para o fazer, muito menos mérito ou capacidade para tal.

O Luís Sobral do maisfutebol é um destes casos. Os escritos que debita, com mais frequência do que talvez fosse apropriado, revelam ou alguém com muito azar nas suas análises, ou alguém que não sabe o que diz. Vejamos alguns exemplos:

  • há uns anos, num apurado trabalho “estatístico”, baseado num conhecimento científico que só ele possui, estabeleceu ou questionou se o Benfica ainda se podia considerar um dos 3 grandes. Logo no ano seguinte o Benfica foi campeão nacional;

  • via no Ruben Micael um prodígio que mais ninguém percebia. Achava que só faltava chegar a um clube como o Porto para crescer e este ser campeão. No ano em que chegou não foi campeão, no ano seguinte pouco jogou, e pouco depois foi despachado ao desbarato para Espanha, num estranho negócio;

  • acha mal as várias chicotadas psicológicas – substituições de treinadores a meio da época por maus resultados – mas a maior parte tem resultado: Sá Pinto (vs Domingos) no Sporting, Di Matteo (vs Villas-Boas) no Chelsea são apenas os dois casos mais sonantes que tanto o revoltaram. Mas podemos somar-lhes um Sérgio Conceição (vs Daúto Faquirá) no Olhanense, ou um José Mota (vs Bruno Ribeiro) no Setúbal, ou Henrique Calisto (vs Luís Miguel) no Paços de Ferreira… é preciso continuar?

  • considerava o Braga a melhor equipa nacional e o provável campeão. Regozijou-se quanto chegaram ao topo da classificação… por uma jornada. Estão agora em 3º, arredados do título e longe do 2º.

É preciso continuar? Enfim, “sobralices”.


João Gobern: lugar errado à hora errada.

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Num programa de comentário sobre futebol, João Gobern (JG), perdendo a sua vez de falar, espreitou para os últimos momentos do Benfica-Braga (2-1) quando o Benfica fez o segundo golo. Comemorou brevemente, foi visto pelas câmaras e acabou fora do programa.

O que se passou depois foi uma espécie de contar de espingardas em versão pseudo-desportiva:

  • uns, sobretudo benfiquistas ou jornalistas solidários, achavam mal porque a atitude é humana e o JG até sempre foi bastante crítico com o Benfica;

  • outros, sobretudo não benfiquistas, achavam bem porque provava-se que o homem não era isento, e como tal não merecia vestir a capa da imparcialidade naquele programa.

Com o devido respeito por cada opinião, aconteceu o expectável e natural. O JG não tinha condições para continuar no programa – tudo o que dissesse futuramente seria sempre posto em causa – mas é ingénuo pensar-se que os outros comentadores supostamente neutros o são, notavelmente o seu insuportável ex-colega Bruno Prata, a quem a máscara cai por tantas vezes.


Somos todos arguidos?

Quando era mais novo lembro-me de ver numa caderneta de recordes que a cárie dentária era a doença mais comum no mundo, porque toda a gente acabava por tê-la a dada altura.

Isto a propósito do estatuto de arguido em Portugal. A dada altura qualquer pessoa é arguido(a), uma vez que até uma simples suspeita contra-ordenacional automaticamente nos transforma em arguidos.

Qual fado, qual cortiça, qual clima, quais vinhos, arguido é a nossa cultura!


sábado, 17 de março de 2012

Até onde se pode copiar?

É certo que hoje em dia quase tudo se baseia em algo existente, e que a diferença entre adaptação criativa e cópia por vezes é difícil de estabelecer. É uma área difícil, diria até impossível, de legislar ou regulamentar.

No entanto, há “adaptações” mais descaradas…

Anúncio da Portugal Telecom (Março, 2012): http://www.youtube.com/watch?v=gDMC4ce8Vow

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Anúncio francês do Nokia Lumia (Novembro, 2011): http://www.youtube.com/watch?v=c6Uwf2Pjf5E

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Excluindo a parte final do anúncio francês, mais convencional, temos em ambos os casos:

  • a mesma música: AWOLNATION - SAIL (Fevereiro, 2011);
  • o mesmo conceito de fundo escuro;
  • o mesmo conceito de planos em câmara lenta com grande detalhe;
  • ausência de palavras ou falas.

Claro que “tudo o resto” é diferente…


Glória ao Sporting, mas não ao futebol.

Pronto, o Sporting eliminou o Manchester City (1ª mão, 2ª mão). O David contra Golias, o pobre contra o rico, o underdog contra o favorito… em que o pequeno venceu (a eliminatória). A tradicional sobranceria idiota inglesa foi derrotada e o Sporting instantaneamente glorificado, um pouco por todo o lado.

Agora a realidade: o Sporting foi um clube pequeno a jogar como um clube pequeno. Chegou a ser confrangedor os números de teatro anti-desportivo da praxe: simulação de lesões com jogadores a contorcerem-se no chão a cada lance disputado, bolas pontapeadas sem nexo para longe, ausência de qualquer iniciativa de construção de jogada, paragem de jogo nos cantos, etc. Ora isto é degradante, não dignifica em nada o desporto e estraga o espectáculo. Não glorifiquem isto. Glorifiquem o resultado.


A ridícula sobranceria inglesa.

Há uns anos, na antevisão de um mundial de futebol, um jornalista estranhava que a selecção inglesa fosse sempre apresentada como uma das favoritas, quando no campo nunca provava esse estatuto. De facto, retirando a vitória caseira em 1966, apenas por uma vez a Inglaterra terminou nos primeiros quatro: em 1990 ficou em 4º.

A nível de clubes a “bazófia” é parecida, embora aqui sempre tenham mais algum crédito, já que os clubes ingleses costumam ter boas performances europeias. Boas, não supremas. O que colide com a sobranceria que costumam demonstrar.

Para os ingleses, imprensa e adeptos, os seus clubes são sempre favoritos antes dos jogos. Este ano na liga dos campeões, quando se soube que o Manchester United ficava no grupo do Benfica, Basileia e Otelul, foram lestos em prever um primeiro lugar com forte possibilidade de fazer o pleno dos pontos, 18. Acabaram em 3º, ficando fora da liga dos campeões, com 9 pontos. De resto as outras equipas inglesas nas competições europeias também têm tido desempenhos medíocres este ano.

Entretanto hoje conheceu-se o sorteio dos quartos finais da liga dos campeões e surge um Benfica-Chelsea. Claro que, como não podia deixar de ser, para os ingleses são favas contadas e já pensam nas meias finais.

É casa para dizer que antes dos jogos os ingleses ganham sempre, depois é que nem por isso.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Curtas do futebol.

  1. O Guimarães ganhou 1–0 ao Benfica naquele que foi considerado por muitos o seu melhor jogo da época. Alegadamente (já agora) os jogadores terão sido premiados por isso. Desde então perderam 4–0 com o Braga e 5–0 com o Sporting em exibições sofríveis. Como é?

  2. Os clubes da Liga elegeram para presidente quem lhes prometeu um aumento de número de clubes na Liga. Compreende-se o racional, os clubes preferem um alargamento, porque mais clubes significa menos competitividade e menor esforço para garantir a permanência. Por outro lado é precisamente esse o problema do alargamento! A falência da exequibilidade democrática dos clubes ou uma simples adaptação da tragédia dos comuns?

  3. Manuel Armindo, um delegado da Liga, foi suspenso por ter feito “declarações que violam, de forma grosseira, os deveres dos delegados” em comentários na sua página do facebook. E o que dizia o senhor? Basicamente discurso típico (mas de muito baixo nível) de adepto portista: anti-benfiquismo primário, elogios ao seu clube. Acontece que é a estes delegados a quem são pedidos relatórios sobre várias incidências dos jogos e o ambiente que os rodeia. Nas agressões dos jogadores do Porto a seguranças no estádio da Luz soube-se que os relatórios dos delegados eram contradizentes com as imagens e declarações de outros intervenientes. Este senhor em particular foi um dos delegados da Liga que branqueou as agressões ao motorista dos árbitros num Porto - Marítimo dos últimos anos, que terminou empatado. Para quem não sabia o que era/é o sistema, eis um dos seus tentáculos.

  4. Um exercício de probabilidades: perante duas situações difíceis, qual a probabilidade de ambas as decisões tomadas serem erradas? 25% diria eu. E se os beneficiados forem o Porto e Braga e os prejudicados o Benfica e Leiria? Talvez 99%?

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  5. No CM diz-se que Portugal vai receber dinheiro para distribuir fruta nas escolas, e daqui se percebe quão atrasado está o nosso país: um conhecido presidente de clube fazia-o de borla.


terça-feira, 13 de março de 2012

Alegadamente: o escudo jornalístico.

Hoje em dia qualquer notícia que refira “alegados” factos, fá-lo sempre alegadamente. É uma defesa para os jornais e jornalistas: alegando coisas, não podem ser acusados de as afirmar. Evitam-se processos judiciais e condenações.

O problema são os exageros. À força de tanta necessidade de protecção, quase tudo aparece alegadamente, ainda que se saiba ter acontecido.

Como curiosidade fiz o seguinte levantamento de número de ocorrências no DN Online (usando pesquisas site:dn.pt no google):

  • homicida: 4200
  • criminoso: 3400
  • ladrão: 2310
  • arguido: 10500
  • alegadamente: 26900

Parece-me que se trata de um alegado exagero.


Pessoas não são recursos!

De vez em quando surgem modas idiotas. Uma dessas é o conceito de designar pessoas como recursos, quando em âmbito profissional, que se tem vindo a vulgarizar.

Assim, em qualquer impresso, mail, ou documento que seja, lá aparece “recurso” para cá, “recurso” para lá, incluindo sítios para “o recurso assinar”.

Custa muito chamar pessoas às… pessoas?!


segunda-feira, 5 de março de 2012

As contas dos escalões do IRS.

Causa-me alguma estranheza a confusão que os escalões do IRS causam a muita gente. O IRS define escalões que são aplicados progressivamente a intervalos de valores (de rendimentos). Assim, a ideia de se perder dinheiro por se estar estar pouco acima de um escalão é errada, porque apenas o montante que fica acima desse escalão paga essa taxa. Isto contraria aquele mito urbano clássico em que uma pessoa que tenha rendimentos pouco abaixo do limite superior de um escalão, ao ser aumentada e subir de escalão, fica a perder porque passa a pagar mais impostos. A pessoa não perde rendimento em relação ao que ganhava antes, embora possa ficar com mais dinheiro retido no âmbito do IRS, logo com menos liquidez mensal.

Agora veja-se este artigo. Começa o senhor por dizer: “Não sou fiscalista, sou economista, mas numa altura em que o Governo ajustou os impostos diretos (novos escalões e novas taxas de IRS) e indiretos (subida de IVA em alguns produtos e serviços) partilho as seguintes reflexões.”, para mais à frente nos deixar a seguinte reflexão: “Não me parece justo que um indivíduo que tenha um rendimento de 155 mil euros brutos anuais pague a mesma taxa (46,50%) de imposto sobre o rendimento que um indivíduo que tenha um rendimento de 1550 mil euros brutos anuais. Reconheçamos que viver com 82,9 mil euros líquidos anuais é extraordinariamente bom mas não é claramente igual a viver com 829 mil euros líquidos anuais. Porque estamos a privilegiar os mais ricos, dos mais ricos, com este sistema? Porque não continua a progressividade? Fuga de capitais? Isso é ceder à chantagem, o que é um péssimo princípio.”.

Consultando os escalões de IRS para 2012 e ignorando deduções específicas e outras nuances do nosso complexo sistema fiscal, considerando somente as taxas aplicáveis, temos o seguinte:

  • rendimento 155000: paga 0,38654 * 153300 + ( 155000 - 153300 ) * 0,4650 = 60047,082, ou seja 38,74% do seu rendimento:
  • rendimento 1550000: paga 0,38654 * 153300 + ( 1550000 - 153300 ) * 0,4650 = 708722,082, ou seja 45,72% do seu rendimento.

O segundo caso paga mais 6,98% que o primeiro e não o mesmo como diz o autor. Se são ou não valores baixos face aos rendimentos, é outra conversa, mas são diferentes.

Porque não continua a haver progressividade nos escalões, pergunta o autor. Porque provavelmente não existem sequer suficientes casos que o justifiquem — as últimas vezes que os impostos aumentaram para os maiores escalões verificou-se que o número da famílias afectadas era residual, afinal para quê obter rendimentos sujeitos a 46,5% de IRS quando se podem obter dividendos taxados a 21,5%? — ou porque desincentiva o crescimento de rendimento.


domingo, 4 de março de 2012

Villas-Gone

Ora escrevia eu a 23 de Fevereiro de 2012 que “(…)Villas-Boas vive dias complicados no Chelsea, sendo provável o seu afastamento em breve” e hoje mesmo um outro artigo sobre o flop Villas-Boas quando, a meio do dia, surge a notícia da sua demissão do Chelsea. Na mouche! Nem 9 meses durou.

As reacções têm sido aquilo que se espera, tendo em conta o contexto. Mais preocupante é o padrão de quem tem sucesso no Porto ir fracassar noutros lados.


Ode à batota.

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Este jogo foi mais um de tantos cuja acção errónea da equipa de arbitragem condiciona fortemente o resultado. O Benfica sai com bastantes razões de queixa dessa “acção”: desde logo pelo 3º golo ilegal, em fora de jogo, depois pela expulsão de Emerson por acumulação de dois cartões amarelos, quando são ambos demasiado “forçados”, especialmente o primeiro que simplesmente não existe. Adicionalmente poupou demasiados jogadores do Porto à acção disciplinar, desde Janko que cometeu 6, 7 faltas e não viu um único amarelo, a Djalma, a quem foi poupada uma expulsão.

Se errar é natural, embora seja naturalmente suspeito quando só acontece num sentido, glorificar o resultado desses erros não o devia ser. Eu vi um jogo extremamente disputado, equilibrado, em que ora dominou uma equipa, ora dominou outra, e que muito provavelmente terminaria empatado caso não houvesse influência externa. Mas mal terminou o jogo, a que se assistiu? A rasgados elogios ao Porto e à diabolização do Benfica. Já sabemos que o futebol é demasiado “resultadista” para ser justo, mas isto é uma autêntica ode à batota.


Villas-Boas o flop?

Em 2010/11 Villas-Boas teve uma época de sonho ao serviço do Porto. Um treinador quase sem experiência como treinador principal passava a orientar um “dos grandes” e logo no ano de estreia ganhava todas as competições em que esteve envolvido, exceptuando a Taça da Liga.

Fruto desse sucesso, passa a ser cobiçado pelos grandes da Europa, saindo para o Chelsea, apesar das anteriores juras de amor feitas ao clube onde estava.

No Chelsea o seu desempenho tem sido um rotundo fracasso, mesmo tendo em conta o desgaste (envelhecimento) dos principais elementos da equipa e falta de soluções alternativas. É que mesmo assim o Chelsea tem equipa para muito mais do que tem conseguido, o que o coloca no seguinte estado:

  • em 5º no campeonato doméstico e já sem hipóteses de chegar aos 3 primeiros;
  • prestes a sair das Liga dos Campeões ante um Nápoles;
  • afastado da taça da liga nos 1/4 final pelo Liverpool (tinham passado as eliminatórias anteriores em prolongamentos e/ou “penaltis”);
  • na taça de Inglaterra estão forçados a ir ao desempate nos 1/8 finais, face a um empate em casa contra o segundo divisionário Birmingham.

Será Villas-Boas tão bom como prometeu em 2010/11 ou demasiado fraco como se está a ver este ano? Pessoalmente acho que é um treinador ao nível de um Domingos. Curiosamente tiveram uma performance semelhante ao serviço da Académica de Coimbra:

  • 2008/09, Domingos, 13V, 13D, 11E: 1,41 pontos por jogo.
  • 2009/10, Villas-Boas, 11V, 10D, 9E: 1,43 pontos por jogo.

O sucesso de 2010/11 deve-se, em minha opinião, a uma sucessão improvável de factores que aí aconteceram: motivação adicional que conseguiu incutir/absorver da estrutura (ódio ao Benfica, mas isso não funciona em Inglaterra); má preparação do seu principal adversário, Benfica, ainda inebriado do sucesso da época anterior; sorteios favoráveis (não defrontaram equipas de 1ª linha na Liga Europa, por exemplo) e, finalmente, alguma “sorte”/“ajuda” em momentos chave.

Não se voltando a repetir estas factores, duvido que voltemos a ver um Villas-Boas versão 2010/11.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Villas-Boas e Domingos: duas faces do mesmo fracasso.

Domingos foi recentemente despedido do Sporting e Villas-Boas vive dias complicados no Chelsea, sendo provável o seu afastamento em breve.

O que têm ambos em comum? Ambos fizeram um upgrade de clube após uma época transacta de sucessos relativos… em clubes com “estrutura”.

No caso do Villas-Boas, orientando o Porto, ganhou quase todas as competições em que participou, incluindo a Liga Europa. Já Domingos, ao serviço do Braga, foi finalista vencido na Liga Europa e ficou em 4ª no campeonato. Tinha sido 2º na época anterior.

Na presente época Domingos foi para o Sporting, onde obteve resultados equivalentes aos que treinadores anteriores alcançaram, com a agravante de ter mais recursos. Paralelamente em Braga continua-se a fazer ao nível das épocas recentes: estão em 3º no campeonato e registaram alguma progressão nas outras competições.

Villas-Boas, no Chelsea, piorou os registos dos seus recentes antecessores: está em 5º no campeonato inglês (2º no ano passado), já demasiado longe sequer do 3º e prestes a ser eliminado da Liga dos Campeões pelo Nápoles. No Porto, o seu inapto ex-adjunto, mesmo com um futebol péssimo e de pouca qualidade, em termos de métricas não está a fazer muito diferente de épocas anteriores: está em 2º, a 2 pontos do 1º (3º, a 8 pontos do 1º, em 2009/10) e eliminado da Liga Europa nos 1/16, com um agregado de 1–6 face ao Manchester City (em 2009/10 tinham sido eliminados nos 1/8 da Liga dos Campeões com um agregado de 2–6 face ao Arsenal).

Tudo isto poderá ser apenas coincidência ou, a confirmação da famosa “estrutura” que se fala em certos clubes. A verdade é que o Braga tem trocado de treinadores e jogadores mas mantido a sua performance. Idem para o Porto. É a “estrutura”…


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Estado demora 16 anos a devolver impostos mal cobrados, mas cobra 15 euros por atrasos de dias.

Esta notícia, no contexto das recentes coimas por atrasos de dias no pagamento de IUC com que o estado varreu mais de um milhão de portugueses, é ilustrativa do “estado sacana” em que vivemos.

Como o estado é uma figura abstracta a única hipótese de corrigir estas situações é punir pessoalmente os seus responsáveis directos.

«O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) condenou o Estado português a indemnizar em 7500 euros um cidadão que esperou vários anos para reaver um imposto de três mil euros que pagara indevidamente, anunciou hoje um advogado envolvido no processo.

Em causa está o imposto que o cidadão Carlos Corte Real foi obrigado a pagar por importar um carro em segunda mão para uso pessoal.

Num comunicado, o advogado Nuno Cerejeira Namora explica que o cidadão iniciou o processo de contestação em 1992 e, seis anos depois, um tribunal de primeira instância deu-lhe razão, decidindo que o Estado deveria devolver o montante, acrescido de juros de mora.

A sentença foi confirmada por um tribunal de recurso e transitou em julgado em 2005 mas, mesmo assim, o montante não foi devolvido, pelo que o cidadão recorreu em 2008 para o TEDH.

O Estado alegou, junto daquela instância, que não devolvera o montante em causa porque não tinha à sua disposição o número interbancário do lesado.»


Proposta de lei 118, algumas considerações.

Actualmente são cobradas taxas 1 na compra de alguns bens que podem ser usados para fazer ou armazenar cópias de conteúdos. Os montantes são depois distribuídos pelos chamados “autores”, como compensação pelo direito à cópia privada que os consumidores podem fazer legalmente. Ou seja, a lei retira direitos aos autores — permitindo ao consumidor fazer cópias para uso privado do conteúdo que comprou — compensando-os por isso monetariamente com os fundos obtidos por este modelo de taxação.

A proposta de lei 118 visa alargar o universo de objectos taxados, mantendo o mesmo modelo, mas com taxas mais onerosas. Este alargamento inclui a maioria dos objectos digitais actuais associados a cópia ou armazenamento de dados, como discos, pens, cartões de memória, etc.

Considero o actual conceito uma aberração, agravado de sobremaneira pela corrente proposta devido aos montantes em causa.

Excluindo os “artistas”, parte directamente beneficiada pela proposta, parece haver um consenso generalizado contrário à actual proposta. Na net há uma sugestão alternativa que se tornou “moda”: colocar essas taxas no lado da fonte, em vez do lado do destino. Sendo menos injusto que a actual cobrança no destino, também tem os seus problemas: as pessoas estariam a pagar à partida direitos para fazer cópias independentemente de as virem a fazer, ou de estarem a pagar o mesmo fazendo 1 cópia ou 10 (ausência de proporcionalidade).

Mas o pior é que não resolve o problema de fundo: o financiamento “da cultura”. A maioria dos “autores”/“artistas” não são auto-sustentáveis e, como tal, precisam de uma renda do estado. Este é o problema que tem de ser discutido frontalmente. Faz sentido o estado patrocinar esta comunidade? Não, sim? Se sim, isso deve ser feito via orçamento de estado, taxas, impostos especiais?

A taxação do direito à cópia sempre foi um pretexto para obter fundos para este financiamento. A história das cópias é treta pegada. Já todo o tipo de argumentação foi usado para o explicar: desde o uso dos media para outros fins que não cópias de obras de autor, ao facto de se pagarem direitos a artistas portugueses por cópias de obras de artistas estrangeiros.

Por isso é que qualquer solução baseada neste pressuposto mentiroso falha: como podemos definir um modelo de financiamento de uma coisa justificando outra?

Se o estado considerar necessário financiar a comunidade “artística” nacional, tem que o assumir e impor contribuições ou impostos para esse efeito. Preferencialmente que não ponham em causa nenhum sector de actividade. O grande demérito da nova proposta de lei é penalizar grosseiramente o nosso modo de vida digital.


  1. legalmente não se tratam de taxas mas sim uma contribuição ou imposto, porque o que financiam não está directamente associado à sua cobrança.


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Precisamos de empobrecer ou embaratecer?

Quando, há uns tempos, Pedro Passos Coelho disse que o país precisava de empobrecer, uns vieram ressalvar a sua coragem em afirmá-lo, outros a estupidez. Eu estou no último grupo.

O país precisa de ficar mais barato, não de ficar mais pobre. São coisas diferentes. Infelizmente todas as medidas tomadas têm sido para tornar o país mais pobre mesmo.

Ainda antes da actual histeria da intelligentsia nacional se instalar em torno deste empobrecimento necessário, já eu reflectia que as coisas por cá ficam demasiado caras. Pagamos muito por pouco. Mas por incrível que pareça, nestes dias fica-se com a ideia que afinal os únicos custos que têm de ser reduzidos são os do trabalho (e associados). Energia? Transportes? Impostos? Nahh… Eles lá sabem!


IRS e os dependentes a mais.

Ontem soube-se que no primeiro ano em que passou a ser exigido o NIF dos dependentes nas declarações do IRS, estes diminuíram cerca de 100 mil face ao ano anterior. Enquanto a notícia circulava o mote ia-se espalhando: fraude. Milhares de pessoas ao longo dos anos declararam dependentes que não existiam para obter benefícios fiscais.

Ora para mim essa conclusão não é assim tão linear. Se em 2009 havia 2173270 e em 2010 2061882 dependentes declarados, são menos 111388 num total de pouco mais de 2 milhões, ou seja, 5%. Não me admira que estes 5% possam ser pessoas que apenas tenham sabido tardiamente que precisavam do NIF dos seus dependentes, não tendo tempo para tratar do assunto antes de fazerem a declaração. Ou ainda de pais com declarações separadas em que ambos colocavam, julgando eles legitimamente, os filhos como dependentes.

Enfim, posso estar errado sobre isto, mas parece-me que a conversa das fraudes é algo exagerada. Já o facto de ter sido inquestionavelmente apontada como a explicação da redução, sem se ter pensado noutras hipóteses possíveis, é mais inquietante: um batoteiro pensa sempre como um batoteiro.


Deixem o Cavaco em paz!

Cavaco Silva tem a mesma escola de Manuela Ferreira Leite: são pessoas em que, a uma imagem de rigor e seriedade, contrapõe uma inabilidade de expressão e comunicação. Acontece que nem a parte do rigor e seriedade são totalmente inquestionáveis, como nem os seus “azares” comunicativos são assim tão desastrosos.

A última tirada de Cavaco Silva — afirmar não saber se as suas reformas, devido aos cortes, davam para pagar as despesas, quando a maioria das pessoas vive em situação muito mais difícil — foi aproveitada para gerar um coro nacional de indignação, quando, digo eu, é facilmente perceptível aquilo a que ele se estava a referir.

Tal como a história de que estava para nascer alguém mais honesto que ele. Ou como a história da alegada suspensão da democracia, ou a de que quem tivesse mais que 70 anos devia pagar os seus tratamentos, por Manuela Ferreira Leite.

São saídas infelizes onde, todavia, se percebe qual é a mensagem transmitida, que por sua vez não tem nada de incorrecto ou condenável (concorde-se com a mesma ou não).

Estas algazarras por cada gaffe que alguém comete recorda-me aqueles miúdos, em que quando alguém se engana passa a ser alvo de chacota generalizada: “bacorada, bacorada”. Enfim, crianças!


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Austeridade fora da lei?

Uma coisa que me tem feito alguma confusão, nesta “nova ordem” da austeridade, é a forma como se descarta a legalidade nas medidas consideradas.

A meia hora de trabalho extra é um bom exemplo: em muitos contratos de trabalho está explicitamente mencionado o horário de trabalho. Tipicamente, na gíria típica dos contratos, aparece algo do género: “O outorgante B deverá prestar os serviços nos dias úteis, das 9h00 às 18h00, nas instalações do outorgante A, com intervalo de uma hora para almoço”. Ora para se encaixar um minuto que seja de trabalho extra neste caso ter-se-ia obrigatoriamente que violar o contrato. Não sendo especialista de direito, parece uma coisa… ilegal?

Muitas outras propostas têm vindo a ser debatidas, sugeridas, ou até mesmo propostas, tendo sempre como base o facto das leis existentes serem descartáveis com tudo o que está feito nesse enquadramento legal.


O cidadão sacana.

Bem nos podemos queixar do estado sacana, que existe, mas a verdade é que também existe o comum cidadão sacana. Se todos nós o somos um pouco, ou se é apenas uma pequena percentagem como muitos advogam, não faço ideia… mas que existem existem.

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Há dias ia à procura das embalagens grandes de Kellogs K, num normal hipermercado. Acontece que havia um sorteio que oferecia a hipótese de ganhar um conjunto de ginástica. Para isso era preciso aceder a um código no interior das embalagens. Resultado: todas tinham sido abertas para remover o código.

As embalagens pequenas, que não tinham o sorteio, estavam intactas. Levei uma dessas :)


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A UGT ainda é um sindicato?

A UGT ainda é um sindicato de trabalhadores? É que nos últimos anos tem funcionado como salvo conduto — para obter concertação social — de qualquer medida lançada pelo governo em favor do dito “patronato”, mesmo que isso acarrete prejuízos desproporcionais aos trabalhadores.

Este comportamento atingiu o seu expoente ontem, com a assinatura por parte da UGT do acordo para a reforma laboral, que na prática coloca praticamente todo o poder da relação laboral unilateralmente nas mãos dos patrões.

É de todo pertinente questionar se esta organização ainda representa trabalhadores.


Meia hora extra de trabalho: a crónica de um fracasso anunciado.

Um dos objectivos da actual política governamental é reduzir o custo do trabalho, e uma das vias para o conseguir, como acordado com a troika1, consistia originalmente em baixar a TSU, ou seja, os montantes pagos à segurança social.

Quando se preparava para passar das intenções aos actos, começou-se a perceber que as medidas de compensação da redução da TSU, como aumento do IVA, seriam muito penalizadoras para a economia. Seria o caso típico em que a cura é pior que a doença.

Ao abandonar-se essa ideia, surge outra, como compensação: passar-se-ia a trabalhar mais meia hora diária. Fica a ideia que surgiu apressadamente, sem grande pensamento prévio, muito menos estudos, baseada em meia dúzia de contas que no papel até ficavam bem, para compensar a desistência da redução da TSU.

Só que é daquelas medidas que ninguém gosta: trabalhadores, sindicatos e até os patrões tinham dúvidas..

Os trabalhadores perderiam ainda mais tempo fora de casa por motivos profissionais, a custo zero, obrigando a rever seriamente todo o seu planeamento familiar (filhos em infantários, ATLs, actividades não laborais, etc), com eventuais custos associados.

O desemprego tenderia a aumentar ainda mais do que já está previsto2, porque menos pessoas fariam mais trabalho, caso a medida tivesse sucesso.

Do lado das empresas apenas haveria ganhos em casos muito particulares de turnos e/ou escalas, como operadores de caixas, mas na generalidade os ganhos para as empresas seriam poucos a nulos.

Finalmente, quando se descobriu que o governo não tinha qualquer estudo de impacto da medida a nível económico nem a nível de desemprego, percebeu-se que a ideia estava condenada: não se iam introduzir alterações deste calibre com base num palpite! Foi um fracasso dos teóricos e amadores, neste caso na figura do ministro da economia.


  1. FMI/CE/BCE.

  2. embora nunca no limite teórico de 1 novo desempregado por cada 16, como erradamente algumas pessoas se convenceram.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Agências, ratings e faróis.

Os faróis foram construídos junto à costa para assinalarem aos marinheiros a presença de terra firme. Durante a noite, ou em dias de más condições atmosféricas, eram os únicos pontos de referência para quem nada conseguia ver.

As agências de rating são uma espécie de farol moderno. Um farol virtual, num universo financeiro, que funciona como referência de quem nada consegue ver por falta de informação ou por falta de confiança na informação que tem.

De facto, tendo em conta que o trabalho destas agências consiste em publicar classificações com base em informação pública, estas classificações só poderão ter valor para quem ignora as informações ou para quem, conhecendo-as, não as consegue analisar ou não confia na sua própria análise.

É esta fragilidade humana que historicamente tem dado azo às mais atrozes acções. As agências de rating são apenas um modernismo das mesmas.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As propinas imparáveis.

Em 1991 o PSD, liderado por Cavaco Silva, ganhava novamente as legislativas e por nova maioria absoluta.

Os últimos anos do mandato anterior tinham sido marcados por uma enorme despesa pública, particularmente nas chamadas obras de betão, como a conclusão histórica da A1 ou a construção do Centro Cultural de Belém.

Durante a campanha, como costume, o tema impostos foi um dos principais. Cavaco Silva garantia que não os aumentaria enquanto um sincero e ingénuo Jorge Sampaio confessava que o teria de fazer, para suportar os custos do estado.

Cavaco ganhou e, também como de costume, fez o contrário do que tinha dito. Entre vários impostos “mexidos”, em que o mais visível foi a intervenção no principal escalão de IVA de 16% para 17%, houve também necessidade de se ir buscar receita por outros expedientes. Um que estava “mesmo à mão” era as propinas do ensino superior. Custavam na altura, por razões históricas, cerca de 1200 escudos, 6 euros na moeda actual, e daí até pularem para valores na ordem dos 300–400 euros foi um instante.

O valor a pagar era por escalões decididos com base nos rendimentos constantes na declaração de IRS. Havia algumas isenções, que oportunisticamente foram consideradas como bolsas: num passe de mágica o governo aumentava em dezenas de milhares o número de bolsistas, atribuindo-lhes uma bolsa virtual com o exacto valor em que tinham acabado de aumentar as propinas. Como é bom ter tantos resultados sem nada fazer.

O discurso oficial era que este aumento de receita nunca serviria para financiar o ensino superior, destinava-se apenas à acção social1.

1995. PS de Guterres ganha as eleições e abole de imediato as propinas. Não serviam. Eram injustas. Quem já pagava mais imposto em IRS, logo mais financiava o ensino superior, era quem pagava propinas. No ano seguinte eram substituídas por uma “taxa”, a pagar por todos, i.e. sem isenções por declaração de IRS, que estava indexada em valor ao salário mínimo nacional. E a garantia era dada: de ora em diante as propinas custariam tanto quando um salário mínimo nacional. Assim corresponderiam sempre a um indicador da riqueza do país.

2012. Valor das propinas fixado entre o mínimo de 630,5 e o máximo de 1036,6 euros.

Conclusão: num (estado) sacana nunca se pode confiar. As propinas são usadas para financiar o ensino superior e correspondem a 2,14 vezes o salário mínimo nacional (485 euros).


  1. embora fosse seriamente questionável serem os alunos (i.e. respectivos agregados) a suportarem os custos da “acção social”.


O mito da carteira de clientes.

Esta notícia exemplifica na perfeição o mito da carteira de clientes das empresas: as empresas não são donas dos seus clientes. Neste caso a empresa está a processar um ex-funcionário porque este deixou de trabalhar para a empresa… e os seus 17 mil seguidores do Twitter que tinha enquanto funcionário, seguiram-no para a sua nova conta pessoal.

Tenho curiosidade em saber qual será o desfecho do caso, mas uma coisa é certa: os tais 17 mil “clientes” obviamente tinham interesse nas participações do ex-funcionário, e este é livre de exercer o seu trabalho como quiser (e puder).

Lembro-me de uma empresa, há uns 13 anos, que fazia contas ao seu valor calculado a partir da sua “carteira de clientes”. O que aconteceu foi que a empresa faliu e ninguém a quis comprar: tinha muitas dívidas e pouquíssimos activos. Aquilo que julgavam ser o seu principal activo, a carteira de clientes, valia zero: quando a empresa fechou, simplesmente procuraram os mesmos serviços na concorrência… a custo zero para estes.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sporting, Público e cartazes.

Nas vésperas de um Sporting-Porto, o jornal Público dava conta, com destaque de primeira página, da existência de cartazes com imagens agressivas nos acessos aos balneários no estádio Alvalade XXI.

Os do Sporting rapidamente alegaram que a notícia visava apenas criar polémica, porque os cartazes já existiam desde o início da época e até tinham sido aprovados e elogiados quer pela Liga, quer pela UEFA.

Este é um daqueles casos em que todos ficam mal na fotografia:

  • o jornal Público, a par de outros como o Jornal de Notícias, presta-se com alguma regularidade a fazer um certo jogo estranho de carácter regionalista. Têm preferências e mostram-nas, embora não o assumam.

  • De facto se os cartazes já existiam desde o início da época não se compreende que isso seja factor de notícia 4 meses depois, curiosamente dois dias antes do jogo com o Porto.

  • Por outro lado o Sporting cometeu o erro patético de tentar justificar com base em “diz-que-disse”s: quer a Liga quer a UEFA negaram terem tido conhecimento dos cartazes e, no caso da UEFA, pediu até que estes fossem removidos ou tapados nos jogos por si organizados.


domingo, 8 de janeiro de 2012

Jerónimo Martins: a hipocrisia e o exagero.

Uma parte do capital da Jerónimo Martins (JM), dona dos supermercados Pingo Doce, foi transferido para uma sua participada na Holanda.

Os “especialistas” avançaram várias hipotéticas explicações para o movimento:

  • porque a JM teria perdido um processo em Portugal contra as finanças;
  • porque na Holanda paga menos impostos;
  • porque a Holanda tem um acordo bilateral com a Colômbia, ao contrário de Portugal, o que facilita os planos de expansão do grupo JM para esse país;
  • porque na Holanda a legislação é estável e em Portugal não;
  • porque na Holanda consegue contrair crédito e em Portugal não;

Isto no meio de uma autêntica operação de diabolização do grupo JM, dos supermercados Pingo Doce e do seu líder Alexandre Soares dos Santos.

Para isto tudo, duas palavras: exagero, hipocrisia.

Exagero porque a JM é última das vinte empresas do PSI20 a transferirem capital para participadas na Holanda. Portanto, já várias outras empresas haviam recorrido ao mesmo expediente… discretamente.

Hipocrisia porque, independentemente de qual a real razão que motivou a operação, terá sido certamente para defender os interesses do grupo. Tal como qualquer outra empresa ou indivíduo faz! Não consigo compreender a “lata” de todos aqueles que acusaram a JM de anti-patriotismo, desistência de Portugal, etc e que depois, no dia a dia, vão abastecer combustível a Espanha, encomendam jogos e vídeos online da Amazon, gadgets de Hong-Kong, entre outras coisas, porque… fica mais barato!


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O custo da A25 vs A5.

Há uns tempos o Jornal de Notícias lançava a bombástica notícia: A25 custa o triplo da ligação Lisboa-Cascais. Como os detalhes não estavam disponíveis na versão online fiquei sem saber que contas é que andaram a fazer para chegar a esses valores.

Dizem eles: «Um veículo ligeiro pagará por quilómetro 9 cêntimos. Este custo é o triplo do suportado por um ligeiro na estrada que liga Lisboa a Cascais». Ora por mais contas que faça, nunca consigo ter um custo de 3 cêntimos por quilómetro para realizar Lisboa-Cascais.

Segundo o que apurei, a tarifa “Estádio Nacional - Cascais” é de 125 cêntimos e corresponde a 16,28km, logo 7,7 cêntimos por quilómetro. Este é o troço da A5 que está concessionado e é pago. A porção “Lisboa - Estádio Nacional” não está concessionada nem é paga, pelo que nem sequer é lógico entrar no assunto. Mas ainda que fosse incluída nas contas, teríamos um custo de 125 cêntimos por 24,30km (16,28 + 8,02), o que dá 5,1 cêntimos por quilómetro.

Parece-me óbvio o intuito com que estas notícias são “plantadas” em certos tipos de meios de comunicação.


A banalidade de aplaudir de pé.

O acto de aplaudir de pé terá surgido para distinguir actuações extraordinárias ou intervenções de alto relevo, mas com o tempo tem-se tornado uma banalidade, frequente, feita por deferência, vassalagem ou mera parolice.

Assim, tanto se assiste a audiências a aplaudir de pé actuações de amadores em programas de “talentos”, como a deputados na Assembleia da República a fazê-lo após intervenções dos seus colegas de partido.

Ora vem isto a propósito duma intervenção recente de José Sócrates onde dizia que pagar as dívidas das nações [na sua totalidade] era uma brincadeira de crianças, pois essas dívidas deviam ser geridas e não pagas.

O que Sócrates disse na verdade é uma banalidade que corresponde ao conceito de “dívida rolante”. A forma patética como o disse é que foi aproveitada internamente para chicana política. Mas o que mais impressionou ainda acabou por ser a plateia aplaudi-lo de pé após este discurso.


A falta de democracia do "processo europeu".

Sempre que se critica a União Europeia surge o inevitável argumento da sua falta de legitimidade democrática: a construção europeia foi sempre feita à margem dos cidadãos.

É um argumento que, estando certo, peca pela falta de simpatia. É que nenhum aspecto estruturante do país teve participação democrática, desde o regime republicano, ao tipo de regime parlamentarista, à base política constitucional, à organização política e de poderes, etc.

Se nunca houve participação democrática na construção destes sistemas, porque haveria o processo europeu de a ter?