O método de Hondt costuma ser apontado como o "responsável" pela disparidade entre a percentagem de votos e a percentagem de deputados eleitos, mas o grande responsável por essa diferença nem é a aplicação do método em si, mas a separação da sua aplicação por círculos eleitorais.
Existem 22 círculos eleitorais, um por cada distrito do continente, 2 para as regiões autónomas (Açores e Madeira) e 2 para os portugueses residentes no estrangeiro (Europa e resto do mundo).
Pegando nos resultados das eleições legislativas de 2005, apliquei o método de Hondt aos resultados à escala nacional.
Partido | Deputados eleitos (% do total) | Aplicado Hondt aos resultados nacionais (% do total) | % real de votos |
---|---|---|---|
PS | 121 (52,61%) | 108 (46,96%) | 45,03% |
PPD/PSD | 75 (32,61%) | 69 (30,00%) | 28,77% |
PCP-PEV | 14 (6,09%) | 18 (7,83%) | 7.54% |
CDS-PP | 12 (5,22%) | 17 (7,39%) | 7,24% |
B.E. | 8 (3,48%) | 15 (6,52%) | 6,35% |
PCTP/MRPP | 0 | 2 (0,87%) | 0,84% |
PND | 0 | 1 (0,43%) | 0,70% |
Note-se que a percentagem de deputados que seriam eleitos caso tivesse sido aplicado o método de Hondt aos resultados nacionais não difere muito da percentagem real de votos em cada partido. A existência de círculos é que deturpa completamente a proporcionalidade dos votos expressos face aos deputados eleitos.
À escala nacional, pequenos partidos conseguiriam eleger um ou até mais deputados, enquanto os grandes teriam mais dificuldades em conseguir maioria absoluta.
Os partidos que elegeram deputados nestas eleições somaram 94,93% dos votos expressos, isto significa que os restantes 5,07% acabam por ser "redistribuídos em deputados" por estes partidos. Isto é um efeito moralmente perverso: alguém que vota num pequeno partido está a contribuir para o grande partido desse círculo ganhar deputados, mesmo que seja contrário à sua ideologia e propostas.
A existência de círculos em eleições de âmbito nacional é estranha, porque não só não faz grande sentido como condiciona os resultados finais.
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