Sobre referendos
Infelizmente as boas intenções de muitos referendos perdem-se em políticas.
A sua excessiva partidarização pode transformá-los numa “contagem de espingardas” de partidos, com o eleitorado de cada partido a votar na opção apoiada oficialmente pelo respectivo partido.
Também pecam por esconder o modelo de implementação. A pergunta à qual se deve responder sim ou não apenas define um princípio geral, que ninguém sabe com certeza como será implementado. Em Portugal, a regionalização foi um desses casos. Havia bastante apoio pró-regionalização, mas não em relação ao modelo que se propunha de 8 regiões, assentes num obscuro modelo administrativo.
Lutas de poder, de influência, ou interesses mais ou menos pessoais de líderes políticos podem ser uma outra face dos referendos.
Caso escocês
Dito isto, o caso escocês foi uma oportunidade perdida. Independentemente dos aspectos laterais do referendo, havia uma oportunidade para os escoceses se tornarem verdadeiramente independentes, explorarem os seus recursos autonomamente, terem a sua própria politica externa.
Existem vários exemplos de uniões e federações no mundo, com sortes díspares.
O modelo federal alemão é um caso de sucesso.
A união espanhola é um meio-termo. A era democrática em Espanha consagrou as comunidades autónomas – que sempre existiram em termos sócio-culturais – com algum sucesso em termos económicos e sociais. Catalunha, País Basco, Navarra, são algumas das comunidades mais ricas, o que de certo modo é prova que o centralismo espanhol não é causador de desequilíbrios regionais.
A união britânica é um fracasso enquanto modelo de desenvolvimento equilibrado entre nações. O Reino Unido é uma imensa Londres em primeiro, depois o resto de Inglaterra, e só depois as outras nações. Gales é uma das regiões mais pobres da Europa ocidental, enquanto a poucos quilómetros existe uma grande Londres com um rendimento per capita 2,3 vezes superior ao dos galeses. Dos 5 aeroportos com mais passageiros, 4 são londrinos!
A própria Escócia tem vindo a revelar um maior desenvolvimento desde que obteve mais poderes. Há vários indicadores que corroboram esta ideia. Não acredito que o Reino Unido consiga reinventar-se, descentralizar Londres, deixando de ser uma extracting economy como sempre foi.
A quebra do statu quo dar-se-ia com uma independência escocesa, posteriormente alargada à Irlanda do Norte – a juntar-se ao resto da Irlanda – e Gales.
Assim os escoceses continuarão a limitar-se a falar mal dos ingleses.