domingo, 18 de outubro de 2009

Santana, Lisboa e ideias.

Santana perdeu as autárquicas para Costa. É certo que a vitória de Costa só foi viabilizada com o voto útil do BE e PCP para o PS, mas também não deixa de ser verdade que faltou algum élan a Santana.

Desta vez não houve o entusiasmo de outros tempos e as próprias ideias deixaram a desejar. Vamos ser práticos. A agenda de Santana centrou-se em meia dúzia de pontos de chave, entre os quais:
- expansão dos contentores do porto de Lisboa;
- saída do actual aeroporto da Portela;
- nova ponte só ferroviária;
- portagens para entrar na cidade.

Vejamos...

Contentores e porto
É um problema comum a todas as cidades portuárias: a existência de uma enorme estrutura que ocupa uma zona nobre da cidade, a zona ribeirinha, desfigurando a cidade, trazendo trânsito pesado e poluição para a mesma, etc etc e tudo para satisfazer uma necessidade nacional. O problema das estruturas com finalidades nacionais é óbvio, e não se limita aos portos (embora seja clamoroso nestes), mas são casos que têm de ser pensados como um todo, e não em decisões avulso, conforme o protesto desta ou daquela edilidade.

Aeroporto da Portela
Não creio que seja uma decisão a caber à câmara. Mais uma vez estamos a falar de uma infraestrutura nacional cuja decisão deve ser feita a esse nível. Independentemente disso, se se fizer o novo aeroporto em Portela, de grande capacidade, faz sentido manter dois aeroportos internacionais a menos de 30km de distância? Será economicamente viável ou mesmo necessário?

Nova ponte só ferroviária
Aqui já se trata de uma infraestrutura regional, ainda assim não municipal. Não é a câmara de Lisboa que decide qual o perfil da nova ponte, nem tão pouco se a vai haver ou não. Lisboa continua a olhar apenas para o seu umbigo. "Não queremos mais carros a entrar em Lisboa" é uma frase recorrente. Mas mais pessoas a entrar já querem, certo? Portanto não só querem mais pessoas, como querem decidir de que forma vêm, como entram, a que horas saem, etc. Francamente se se vai gastar dinheiro numa ponte nova e se a diferença de custo para uma ponte bimodal não for substancialmente maior, quanto maior fluidez em absoluto tiver, melhor!

Portagens para entrar na cidade
Ah! Finalmente um assunto municipal. Mas em terreno perigoso! Mais uma vez Lisboa olha para o seu umbigo apenas. Que se limite o trânsito nesta ou naquela artéria, neste ou naquela bairro, tudo bem. Cobrar para entrar em Lisboa de um modo geral -- mesmo sendo apenas em algumas horas do dia, para carros só com um condutor -- é retirar o direito à livre circulação. E é abrir um precedente perigoso. Que tal o Algarve começar a cobrar portagens nos acessos às praias durante o verão? Ah pois!


Tirando o caso dos contentores, que é um assunto bem mais complexo, com o devido respeito o resto ou pouco ou nada depende do município ou é um tiro no pé. Com Costa não vão haver grandes obras, grandes projectos, nem grande desenvolvimento. Basicamente Lisboa vai ter 4 anos de manutenção. Santana seria mais dinamizador, mas também mais problemático.


PS: não deixa de ser irónico que nas legislativas tanto se tenha apelado ao voto útil, tendo havido uma enorme votação "inútil", que bem fez crescer os pequenos partidos. Já nas autárquicas, em Lisboa, sem que ninguém os pedisse, eles vieram.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.