sábado, 17 de setembro de 2011

Fazer política através de notícias ou vice-versa?

Um hábito que se tem intensificado nos últimos governos — independentemente da sua composição partidária — é o surgimento regular de notícias a revelar pretensas medidas a serem tomadas num futuro próximo. Raramente algumas destas cachas jornalísticas se vêm a concretizar tal como foram noticiadas e frequentemente são desmentidas de seguida pelas autoridades respectivas.

Só nos últimos meses, sem qualquer pesquisa, vêm à cabeça: o convite de Mário Crespo para correspondente da RTP, o lançamento de portagens no IC19 e CRIL e, ainda ontem, o aumento da electricidade em 30%. Isto excluindo as notícias sobre matéria fiscal que são aventadas quase semanalmente.

Muito sinceramente ainda não consegui perceber o fenómeno: se se pretende fazer política via notícias ou se se pretende fazer notícias via política.

Política via notícias: é uma tese que encontra algum eco. Os governos ou autoridades em geral lançam uma medida drástica via comunicação social, essa medida gera alguma revolta na sociedade mas simultaneamente algum efeito de aceitação devido à sua inevitabilidade, mais tarde é lançada uma versão mais suave dessa medida. Exemplo: em vez de 30% de aumento da electricidade, esta poderá aumentar “apenas” 15%.

Isto é usar a comunicação social para medir o pulso das medidas pretendidas.

Notícias via política: nesta tese seria a comunicação social a inventar, ou a aceitar fontes sistematicamente não-credíveis como confiáveis, notícias para capitalizar edições vendidas. Seriam exercícios de especulação, fantasiosos, em que alguns até poderiam coincidir com a realidade. Um pouco à semelhante do que acontece nos jornais desportivos a propósito das contratações de jogadores.

Existem mais cenários possíveis, como é óbvio, e provavelmente até poderá ser que aconteça um pouco de todos na realidade. Mas não deixa de ser estranho esta constante noticiar de falsas medidas.


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