domingo, 17 de abril de 2011

A lição da Bela Vista...

Faz agora perto de dois anos que ocorreram célebres incidentes na Bela Vista, em Setúbal. A história passa-se em 2009, e a cronologia resumida dos acontecimentos é a seguinte:

  • noite de 29–04: cinco criminosos roubam um bmw 530d (sedan) em Palmela por carjacking;
  • com o carro “novo” dirigem-se ao Algarve, zona do Alvor;
  • às 6h da manhã de 30–04 roubam o multibanco de um hospital;
  • a polícia surpreende-os, tentam fugir e um acaba por ser ferido a tiro na nuca, após ter tentado atropelar um agente, morrendo pouco tempo depois;
  • 07–05: depois do funeral, no cemitério de Setúbal, uma multidão de amigos e família regressa à Bela Vista, onde vivia o criminoso morto, e surgem conflitos com a PSP que possui uma esquadra nesse bairro.

A partir daí surgem motins e vários actos de grave desordem pública: a polícia foi apedrejada, houve três disparos contra a esquadra a partir de um automóvel, alguns carros, motas e contentores do lixo/reciclagem queimados, cocktails molotov arremessados contra a polícia… e tudo isto sem que ninguém tenha sido detido sequer.

Perante tudo isto é-me claro o seguinte:

  1. as autoridades perderam o controle efectivo do espaço nacional ao nível de certos bairros. Como pode um contingente bastante numeroso de polícia ser alvo destes ataques sem que se tenha assistido a qualquer detenção?

  2. os criminosos têm um aparente “salvo conduto” para realizarem os seus crimes até determinado nível: desde que não matem, tudo lhes é permitido. Se são apanhados, mesmo em flagrante, em crimes cometidos com armas, ficam a aguardar o julgamento em liberdade, com apresentações periódicas às autoridades, que regra geral não cumprem, sem que nada lhes aconteça;

  3. pior — em minha opinião — foi constatar o apoio que os criminosos têm dos bairros onde vivem. Sempre se ouviu dizer que os criminosos dos bairros problemáticos eram uma minoria que davam mau nome ao bairro, onde viviam pessoas honestas na sua maioria. Acredito que sim, mas são estas honestas que os suportam, e isso ficou claro no caso Bela Vista. Vê-se como são defendidos ou como são relatados como “santos” e pessoas de bem… depois de mortos. Não questionam de onde vêm os BMWs que roubam, nem como um gang, o do multibanco, acumulou 2 milhões de euros. Branqueiam o fruto das suas acções criminosas. Patrocinam-as e suportam-as alimentando-os, dando-lhes abrigo, dormida, etc.

Esta foi a grande lição do caso da Bela Vista de 2009. Além dos “problemas de integração social”, existe cumplicidade das gentes dos bairros com os seus piores elementos. Para combater a raiz da criminalidade que destes provém, devia-se também responsabilizar quem lhes dá protecção e guarida por cumplicidade.


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