terça-feira, 5 de abril de 2011

Queiroz, o tratante.

Carlos Queiroz notabilizou-se ao vencer o campeonato do mundo com as selecções juniores, por duas vezes. Desse lote de campeões de escalões jovens saíram uns poucos grandes jogadores embora a maioria nunca tivesse singrado verdadeiramente no futebol sénior, acabando muitos por serem relegados para clubes de divisões inferiores ou mesmo desistindo do futebol.

Após isto há duas facetas públicas da sua carreira: uma de sucesso como treinador adjunto, outra de insucesso como treinador principal. Não há grande volta a dar: Sporting, Selecção Nacional, África do Sul, Real Madrid, Selecção Nacional outra vez… Todos estes percursos pautados por curtas passagens e maus resultados. Com um pouco de perspicácia dir-se-ia que o senhor é… incompetente como treinador principal?

Não obstante estes sinais a FPF convidou-o a ser seleccionador nacional para o quadriénio 2008–2012, ou seja, para fazer o Mundial 2010 e Europeu 2012. Após conseguir qualificar-se in extremis para o Mundial 2010 — com muitos maus resultados e muita sorte à mistura — a campanha do mundial em si foi má.

Perante alguém que já não dava garantias e que era necessário trocar, que faz a federação? Recupera um incidente ocorrido durante o estágio para, eventualmente, o despedir. Ou seja, acontece um desaguisado com as equipas anti-doping, tudo isso fica a marinar enquanto dura o mundial e mal este termina, lança-se a bomba anti-Queiroz. Depois duma série de condenações de âmbito desportivo a FPF despede-o por justa causa.

Queiroz recorreu às instâncias possíveis, que o têm ilibado sistematicamente. Recentemente foi o caso do Tribunal Arbitral do Desporto que lhe deu razão na suspensão movida pelo ADoP/IDP. Talvez venha a conseguir anular a justa causa do seu despedimento, obtendo uma choruda indemnização.

Alguns pontos a considerar:

  1. muito mal Laurentino Dias, secretário de estado do desporto, que tudo indica ter instrumentalizado instituições estatais (ADoP/IDP), controladas pelo governo — ou seja, por ele — a penalizarem Queiroz;
  2. muito mal a lei portuguesa que permite um órgão estatal que não um tribunal ter poder para condenar alguém, sem assegurar os mais elementares direitos de defesa.
  3. muito mal um país que sucessivamente vê decisões da justiça nacional serem anuladas pela justiça internacional!

Dito isto, apesar de Queiroz ter razão em toda esta novela, pouca gente terá ficado incomodada com o sucedido: trata-se dum tratante que dispara para todo o lado — até uma insignificante comentadora do Record foi alvo da ira do senhor — carregado de azedume, no mínimo.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.